A Última Lavoura Desta Terra

Sabem quando querem muito aprender a andar de bicicleta e dão uns valentes tombos? Pois bem, a minha bicicleta chama-se Canon 500D e foi apenas com ela que subi os montes (confortavelmente no carro pela estrada) e fui até Mascoselo filmar a realidade dos velhinhos de lá.

IMG_9997

Sabem quando querem muito aprender a andar de bicicleta e dão uns valentes tombos? Pois bem, a minha bicicleta chama-se Canon 500D e foi apenas com ela que subi os montes (confortavelmente no carro pela estrada) e fui até Mascoselo filmar a realidade dos velhinhos de lá. Aquelas caras queimadas provenientes das vessadas (cultivo da batata em grupo) estão quase a desaparecer e quando isso acontecer, irão restar apenas as recordações, as fotografias mal enquadradas e queimadas e “A Última Lavoura Desta Terra”.

IMG_9911

Isto não foi novo para mim, nem muito velho. Foi apenas um registo do que só eu e poucos mais conhecíamos de lá. Se naquela curta há protagonistas, uma delas é a minha avó, a senhora que fala de um ABS em vez de um AVC. Em documentário é muito mais fácil quando estamos enraízados com o local e com a população nativa e até com os buracos nas estradas. Mas havia muito mais para mostrar. A intenção foi retratar uma pequena parte, até porque não há muitas partes por lá. Falar de ontem e de hoje e do amanhã. Foi simples, vindo da simplicidade contida nas palavras de cada velhinha. Por outro lado, deparei-me com o típico “é para a televisão, deixa-me lá arranjar o cabelo, filhinha”.

E é neste campo que as dificuldades apertam. O documentário é um treino livre, e liberta quem está a ser apontado com uma câmera. E essa total liberdade leva a que, às tantas, a conversa se desvie para o facto de o gato ao lado estar a cuspir uma bola de pêlo. Isto acontece, e acontece muitas vezes. Mas por outro lado, sentir que nos vêm como mais uma pessoa daquela terra, facilita o encontro, o diálogo, a confiança depositada em quem está a gravar, pelo menos ficam mais descansados e não pensam que vão fazer maldades com os vídeos deles. E esta confiança é também palco de mediador da conversa e dá espaço para entrelinhas e momentos de descontracção, como “…as mulheres… levavam umas pancadinhas ainda por cima…”

IMG_9921

Aconteceu tudo de uma forma natural, quase instantânea, quase nem era necessário perguntar se podia ligar a câmera. Era chegar, colocar questões e deixar que eles desenrolassem a conversa. Foi assim que aconteceu.

O registo agradou-me e já tem agradado por aí. Talvez um dia pendure uma tela lá num castanheiro e  faça uma projecção do filme. Da minha parte, recomendo a viagem até às encostas da Serra do Marão, que descubram aquela terra escondida no meio dos campos de cultivo, onde o sol só bate por duas dezenas de habitantes.

https://www.facebook.com/aultimalavouradestaterra
“A Última Lavoura desta Terra” vai ser exibido no Quinta Praia, no dia 6 de setembro, numa sessão especial de documentários.

Comentários

  1. Sofia diz:

    Fantástico ;)