Ari o Burro | A imersão

Jesus-Donkey

Porque nem só de trabalho se faz a vida de um burro, também o nosso Ari (o Burro) sentiu a necessidade de abraçar outros desafios, nomeadamente o enriquecimento da sua vida espiritual e o contributo para a sociedade. Nesta linha de pensamento e sem grandes conhecimentos sobre os fundamentos de uma qualquer religião, optou por conveniência. Animal em vias de extinção, solitário, converteu-se ao cristianismo alegando como justificações o maior número de crentes de entre todas as religiões, o que resolveria o problema de falta de companhia, e o não menos importante facto de o líder ser um gajo porreiro.

Nesta missão de se tornar um Burro melhor, investiu em adereços e na formação. Tornou-se proprietário de um fio d’ouro com um crucifixo para ser identificado por outros crentes e inscreveu-se na catequese acompanhada da respetiva compra de um catecismo. Nunca se sentiu tão incluído, o burro! Cânticos, visitas ao Bom Jesus, a honra de carregar o cestinho das ofertas na missa, a primeira vez no púlpito, a mão do padre na sua perna. Sentindo-se invadido por toda esta fé, decidiu imergir, nascer de novo, deixar a existência carnal para abraçar os ensinamentos de Cristo. Um Burro batizado, vejam só! Até se vestiu a preceito e seguindo a doutrina, envergou orgulhosamente um pólo da Benneton, umas calças Levi’s e uns sapatos de vela da Raiders, como Jesus teria feito se vivesse nos nossos dias.

A história religiosa ainda era recente mas Ari já se sentia em dívida para com esta instituição. Estava na altura de retribuir, envolvendo-se em causas de solidariedade. Foi durante estas actividades que teve a ideia de organizar um evento. Um sonho que até àquele dia não faria sentido mas que a fé fez questão de catalisar. Apelando ao fanatismo futebolístico do atual Papa, decidiu convidá-lo para um jogo de futebol de caráter beneficente. Utilizando as instalações do novo pavilhão de Vila Real, decidiu-se que a proposta não implicaria uma visita oficial, pela falta de medidas oficiais do campo. Não se viu problema, relembremos que o Papa é um gajo porreiro. Ficava em falta a equipa adversária e numa tentativa de agradar a toda a gente foi escolhida a igreja maradoniana. Tal escolha prendeu-se numa questão que atravessa os tempos: Será que Deus existe? Ora bem, se no caso dos cristãos a dúvida é pertinente, já no caso da igreja maradoniana ninguém se pode queixar.

Este evento nunca chegou a realizar-se. As verdadeiras razões ninguém as conhece. Uns dizem que era utopia, outros afirmam que a Prada se recusou a fazer umas sapatilhas de futsal para o Santo Padre. Nada disto abalou a fé do Burro, ainda hoje acha o Papa um gajo porreiro. E acha mais coisas. Acha que até a igreja foi inteligente o suficiente para mudar de líder quando o rumo que tomava não era o certo. E que o nosso estado é mais conservador do que esta empresa que aconselha o não uso de preservativo. Não se recicla, e nem sequer arranja um líder porreiro.

Imagem: Hippolyte Flandrin, “Entrada Triunfal em Jerusalem”, 1842