Ari o Burro | A Origem

burro-web

Como qualquer outra história, esta começa pelo princípio e relata o percurso de um rapazito que entre sonhos de infância chega a uma encruzilhada. Não se pense que se tratava de apenas mais uma birra, o dilema era sério e dizia respeito à escolha do trajeto profissional.

Após um extenso período de ponderação, o rapaz reduz as hipóteses a duas: agente da autoridade ou burro. É com naturalidade que opta por se tornar num burro e a explicação é simples. Apesar da arma ser apelativa e do uniforme dar acesso a estabelecimentos comerciais fora do horário laboral, ser burro permite manter o mesmo grau de iliteracia do ditos agentes, o contacto permanente com a natureza e em altura de crise, decerto que um subsídio por cuidar de um burro ia dar jeito aos pais da criança.

Decisão tomada, era tempo de passar à ação. Embora apresentasse já as caraterísticas intelectuais ideais para a burrice, naqueles dias, embora menos que no presente, já se exigia que o exterior combinasse com o interior. Ora, o Ari já apresentava um buço de adolescente mas todos concordaremos que burro que se preze tem obrigatoriamente que ostentar pêlo com fartura e um belo dum focinho. É com base nestes pressupostos que é marcada uma viagem ao Brasil para se sujeitar a uma cirurgia estética. Asno sim, mas ao menos perfecionista. É durante esta viagem que o informam que poderá não ser elegível para subsídio, uma vez que apenas os jumentos à nascença têm acesso.

Regressado a Portugal, desiludido e após abortar a intervenção cirúrgica, tenta reconstruir o seu futuro e desistir do seu sonho parecia o cenário mais lógico. Mas invocando a teimosia que sempre distinguiu os burros dos demais, Ari pensa dele para ele: Se o Natal é quando um homem quiser, também eu posso ser burro porque quero!

A única tristeza de que padece este rapaz é que ninguém nos dias que correm quer ser burro como deve ser. Enquanto os verdadeiros burros correm risco de extinção, uma outra estirpe de jumento prolifera. Fala-se, claro está, do burro de fato e gravata!

Todos nós nos lembramos de viver ou de ouvir falar do “tempo das vacas gordas”. A este presente que nos torna cada vez mais passado, chamemos-lhe “O tempo dos burros gordos”.