A 7 de Outubro aconteceu na NERVIR a Bandit Room #7 com Backbone, Trikk, e B2B António Braun e Marco Coelho.

O propósito do projecto é estimular a presença da música electrónica e criar eventos alternativos na região, promover o género musical e o conceito das festas sempre sob a marca Bandit.

Bandit Room e a importância da exigência

Quando começámos o IP4 tínhamos a ideia de escrever um texto sobre o que Vila Real precisa. Rapidamente percebemos que não só corríamos o risco de ser condescendentes, como era uma tarefa hercúlea tentar perceber, e muito menos resumir, num único texto tudo o que esta cidade parece precisar. Além de que, claro, toda a gente tem uma opinião sobre o que Vila Real precisa: mais cultura, mais comércio tradicional, mais rotundas, uma boa praia fluvial, passeios alcatifados, estátuas que se possam deitar abaixo em manifestações ou, uma das sugestões mais comuns, que se façam coisas, porque a cidade precisa de mais vida, de mais actividade.

Isto de fazer coisas é bem demonstrativo do que tem acontecido ultimamente. Tem havido uma corrida às coisas e as coisas multiplicaram-se: concertos, festas, mercados, apresentações, sessões de cinema, além da já presente programação do Teatro e dos museus. Vale tudo, porque não existe nada. Promover cultura, especialmente a alternativa, em Vila Real é desbravar território quase virgem, mais comparado com cultivar um terreno em mau estado porque é abandonado a cada década. Não me entendam mal, é óptimo que apareçam iniciativas na cidade, mas, agora que elas começam a existir, começa também a surgir outra das coisas que Vila Real precisa — subir o grau de exigência.

Trikk @ Bandit Room #7

Trikk @ Bandit Room #7

Caso não o considerem baixo, passo a defender este ponto. Em primeiro lugar, o standard é regional, ou seja, não pensamos se algo é inovador ou diferente no seu sentido mais lato mas antes que é inovador ou diferente para Vila Real, o que frequentemente cultiva a cópia em vez da criação. Em segundo lugar, todas as iniciativas são valorizadas meramente por serem iniciativas, sem critérios reais, o que faz com que dificilmente se subam degraus. Em terceiro, generalizou-se a ideia de que a crítica, especialmente a negativa, é só outra forma de incomodar quem anda a mexer-se. Com isto não digo que não se construa nada de qualidade em Vila Real, pelo contrário, as excepções são várias, e uma delas é precisamente a Bandit.

Antes que pensem que o IP4 anda a receber subornos e descartem a minha opinião por parecer que estou a endeusar estes bandidos, devo dizer-vos que o techno e a electrónica são territórios muito novos para mim, tenho de admitir que, por várias razões, nunca me suscitaram grande curiosidade e que só desde o ano passado, depois de estar na Bandit Room #3, é que procurei mais sobre o assunto. Suponho que, em certa medida, isso mostra como a iniciativa está a cumprir o seu objectivo de fazer mais pessoas interessarem-se pela música electrónica. Portanto, não escrevo este artigo na perspectiva de conhecedora do género mas na de quem acha preciso sublinhar a maturidade do projecto e o quanto ele mexe com as pessoas, independentemente dos gostos individuais.

B2B António Braun e Marco Coelho @ Bandit Room #7

B2B António Braun e Marco Coelho @ Bandit Room #7

Esta BR#7 foi uma charneira para aquilo que a Bandit tem vindo a construir. Não tenho tanto talento como o Francisco para reviver a festa, mas isso não me parece importante, quem lá esteve sabe que foi uma noite que correspondeu perfeitamente às expectativas e à velocidade com que os bilhetes esgotaram, sabe que o set do Trikk foi incrível e o B2B António Braun e Marco Coelho trouxe um inédito ambiente underground e restrito, quase familiar. Mais do que ser alta noite até de manhã, foi um momento de firmeza e afirmação para o projecto: digam o que disserem, a Bandit veio para ficar.

É verdade que nem tudo correu maravilhosamente, o auditório tinha demasiado fumo, a luz falhou em determinada altura e criou um momento de silêncio, mas o som estava óptimo e o público estava submerso na música. Mais uma vez, os objectivos estão a ser cumpridos, e é essa constante adição de objectivos e eliminação de problemas, imaginando sempre mais e melhor, que faz com que seja possível perceber que este não é um projecto que jogue nos regionais, este não é um projecto que se vá deixar acomodar pela falta de exigência vilarrealense mas antes inverte os papéis e, com o tempo, vai obrigar quem quer que seja que queira competir a também jogar no campeonato alto.