Destaques | Março
Para quem não perde a cabeça com o Carnaval, Março bem pode começar a dia 6. A Dedos Bionicos leva ao Club de Vila Real o mítico Mike Watt, antigo membro de bandas como os Minutemen, Firehose ou os reunidos Stooges. Watt não vai sozinho a Vila Real e apresenta-se em palco com os seus Missingmen. Mas há mais nessa noite, que conta também com actuações dos ingleses Guess What e dos belgas L’Oiellère.
Depois de Lamego (1/Fev) e Bragança (16/Nov), o Teatro de Vila Real apresenta, dia 8 de Março, Romeu e Julieta, o texto clássico adaptado por Benvindo Fonseca com a Companhia de Dança Contemporânea de Évora. O coreógrafo cabo-verdiano celebrou 30 anos de carreira em 2013 e é um dos artistas mais reconhecidos em Portugal, tanto no seu percurso de bailarino como mais tarde em coreografia contemporânea. Esta versão do drama shakespeariano é um dueto; as famílias Capuleto e Montecchio são fisicamente eclipsados e o foco está nas cenas desenvolvidas puramente entre os protagonistas, como as suas juras de amor ou a morte conjunta na cripta, um símbolo eterno das tragédias românticas.
Para ver, também, A Sagração da Primavera, 100 anos depois da sua criação por Stravinsky e Nijinsky, coreografada e interpretada por Olga Roriz, uma das mais aclamadas e reconhecidas bailarinas nacionais. Poucas são as coreógrafas que continuam, aos 57 anos, a interpretar as suas próprias visões artísticas, e isso, aliado à genialidade da composição, fazem desta peça contemporânea uma óptima razão para estar no Teatro Municipal de Bragança no dia 20 de Março.
Depois disto resta-nos sublinhar que Março é o mês do teatro. O Dia Mundial é a 27 e com ele, não só recomeça o Festival Internacional de Teatro, como vêm várias boas razões para sair de casa com o início da Primavera:
No dia 22, para quem falhou a estreia, é possível e muito recomendável assistir ao Caso Hamlet no Teatro Ribeiro Conceição, em Lamego. O IP4 destacou-o em Fevereiro e comprovámos as nossas próprias palavras: Peripécia não traz uma interpretação meramente trágica, mas antes uma performance enérgica, cativante e povoada de humor inteligente.
A 27 no Teatro Municipal de Bragança a Ensemble Sociedade de Actores apresenta À Espera de Godot, a principal obra de Samuel Beckett e uma das mais importantes peças de teatro do século passado. Em dois actos, duas personagens discutem tudo enquanto esperam por uma terceira, etérea, Godot, que nunca chega; Beckett sempre recusou a ideia de Godot associada a Deus, a peça não pretende ser sobre quem ou o que esperamos mas o que acontece enquanto esperamos por isso. Em gesto de celebração, a entrada é livre, só limitada ao levantamento de bilhetes.
E por falar em clássicos, ainda dentro do Festival, a 29 de Março no Teatro de Vila Real, a ACE/Teatro do Bolhão apresenta Édipo, a tragédia grega por excelência, escrita por Sófocles em 427 aC. Édipo, que tenta fugir ao seu destino profetizado, envereda cada vez mais nas teias das circunstâncias, ignorante. O texto pertence ao conjunto de grandes obras literárias que nunca terão uma interpretação final e cuja descoberta leva qualquer espectador, desde há mais de dois mil anos, a sofrer com a fatalidade das suas personagens e com a pequenez do homem ao lado dos raios políticos, religiosos, sociais e antropológicos que ele próprio definiu para si.