Destaques | Março

À Espera de Godot, a 27 no Teatro Municipal de Bragança, entrada livre

À Espera de Godot, a 27 no Teatro Municipal de Bragança, entrada livre

Para quem não perde a cabeça com o Carnaval, Março bem pode começar a dia 6. A Dedos Bionicos leva ao Club de Vila Real o mítico Mike Watt, antigo membro de bandas como os Minutemen, Firehose ou os reunidos Stooges. Watt não vai sozinho a Vila Real e apresenta-se em palco com os seus Missingmen. Mas há mais nessa noite, que conta também com actuações dos ingleses Guess What e dos belgas L’Oiellère.

Depois de Lamego (1/Fev) e Bragança (16/Nov), o Teatro de Vila Real apresenta, dia 8 de Março, Romeu e Julieta, o texto clássico adaptado por Benvindo Fonseca com a Companhia de Dança Contemporânea de Évora. O coreógrafo cabo-verdiano celebrou 30 anos de carreira em 2013 e é um dos artistas mais reconhecidos em Portugal, tanto no seu percurso de bailarino como mais tarde em coreografia contemporânea. Esta versão do drama shakespeariano é um dueto; as famílias Capuleto e Montecchio são fisicamente eclipsados e o foco está nas cenas desenvolvidas puramente entre os protagonistas, como as suas juras de amor ou a morte conjunta na cripta, um símbolo eterno das tragédias românticas.

Para ver, também, A Sagração da Primavera, 100 anos depois da sua criação por Stravinsky e Nijinsky, coreografada e interpretada por Olga Roriz, uma das mais aclamadas e reconhecidas bailarinas nacionais. Poucas são as coreógrafas que continuam, aos 57 anos, a interpretar as suas próprias visões artísticas, e isso, aliado à genialidade da composição, fazem desta peça contemporânea uma óptima razão para estar no Teatro Municipal de Bragança no dia 20 de Março.

Depois disto resta-nos sublinhar que Março é o mês do teatro. O Dia Mundial é a 27 e com ele, não só recomeça o Festival Internacional de Teatro, como vêm várias boas razões para sair de casa com o início da Primavera:

No dia 22, para quem falhou a estreia, é possível e muito recomendável assistir ao Caso Hamlet no Teatro Ribeiro Conceição, em Lamego. O IP4 destacou-o em Fevereiro e comprovámos as nossas próprias palavras: Peripécia não traz uma interpretação meramente trágica, mas antes uma per­for­mance enér­gica, cati­vante e povo­ada de humor inteligente.

A 27 no Teatro Municipal de Bragança a Ensemble Sociedade de Actores apresenta À Espera de Godot, a principal obra de Samuel Beckett e uma das mais importantes peças de teatro do século passado. Em dois actos, duas personagens discutem tudo enquanto esperam por uma terceira, etérea, Godot, que nunca chega; Beckett sempre recusou a ideia de Godot associada a Deus, a peça não pretende ser sobre quem ou o que esperamos mas o que acontece enquanto esperamos por isso. Em gesto de celebração, a entrada é livre, só limitada ao levantamento de bilhetes.

E por falar em clássicos, ainda dentro do Festival, a 29 de Março no Teatro de Vila Real, a ACE/Teatro do Bolhão apresenta Édipoa tragédia grega por excelência, escrita por Sófocles em 427 aC. Édipo, que tenta fugir ao seu destino profetizado, envereda cada vez mais nas teias das circunstâncias, ignorante. O texto pertence ao conjunto de grandes obras literárias que nunca terão uma interpretação final e cuja descoberta leva qualquer espectador, desde há mais de dois mil anos, a sofrer com a fatalidade das suas personagens e com a pequenez do homem ao lado dos raios políticos, religiosos, sociais e antropológicos que ele próprio definiu para si.