Rescaldo do Douro Jazz 2013

O Douro Jazz 2013, co-organizado pelos teatros de Vila Real, Lamego e Bragança, arrancou a 21 de Setembro e terminou a 12 de Outubro. Além de concertos, incluía prova de vinhos, a versão sobre rodas, que circulou pela região demarcada do Douro, a masterclass com Filipe Melo, do Melo/Santos quarteto, e a adaptação de jazz nas escolas.

4 Por Jazz @ Douro Jazz, Café Concerto, Vila Real

4 por Jazz

O nosso Douro Jazz começou a 3 de Outubro, quando saímos de casa já tarde a achar que não íamos encontrar lugar sentado no café concerto (música ao vivo gratuita e sem mais eventos na cidade, seria de esperar que enchesse). Contudo tivemos tempo, e espaço, para tomar um café antes do concerto. Os 4 por Jazz começaram com entusiasmo, encorajando mais alguns grupos a juntarem-se nas mesas em frente ao palco, o concerto evoluiu lento e foi-se misturando com o ambiente do bar, as conversas foram retomadas, alguns mais outros menos cientes da música — era jazz entre amigos, dentro e fora do palco.

Rescaldo Douro Jazz 2013

LA New Mainstream

Em Lamego, no sábado seguinte, o Teatro Ribeiro Conceição recebeu os L.A. New Mainstream que apresentaram o seu novo disco homónimo. Os L.A. New Mainstream são compostos por Lars Arens, compositor e trombonista de origem alemã e por cinco músicos portugueses de jazz da nova geração: Daniel Bernardes (piano), Desidério Lázaro (saxofone), António Quintino (contra baixo), André Santos (guitarra) e Joel Silva (bateria). Por razões desconhecidas Lars não pode estar presente, sendo substituído e muito bem substituído por João Capinha.

Durante hora e meia, o jazz espalhou-se pelo magnífico Teatro Ribeiro Conceição, que contava com cerca de meia casa. Os L.A. New Mainstream diferenciam-se por não se cingirem às regras, o experimentalismo praticado em várias partes das músicas não nos deixam ter um segundo de desatenção, conseguindo exibir um dinamismo irresistível e consequentemente envolvedor. Numa apresentação de disco tão bem disposta, seja pelo bom humor do Desidério Lázaro, ou pelos títulos das músicas, como são exemplos A Malha Rodrigues e O Pato de Einstein, ficou bem demonstrado que o jazz português vive verdadeiros dias de ouro.

Rescaldo Douro Jazz 2013

Spyros Manesis Trio

Voltando ao Teatro de Vila Real, Spyros Manesis Trio apresentou o disco Undelivered. Este trio nasceu em Amsterdão e é formado por Spyros Manesis (Grécia) no piano e também compositor, João Hasselberg (Portugal) no contrabaixo e Kaspars Kurdeko (Lituânia) na bateria. A musicalidade deles, fresca e seca, desafia o ritmo jazzístico tradicional e amplia as texturas sonoras do género; sentia-se, no entanto, o espírito experimental crescente, pausado pelo enclausuramento dos cânones do jazz. Aguçado e lírico, teve alguns momentos mais surpreendentes, como a Lucy in the Sky with Diamonds e a passagem de Kaspars Kurdeko da bateria para um balde metálico com água.

No segundo encontro, a manga IP4 em Bragança, no Teatro Municipal, sentiu o trio liderado pelo pianista grego Spyros Manesis compensar a monotonia em palco com uma imensa simpatia tangível. Apresentaram o mesmo projecto, sempre pautados pela correcção dos arranjos standard de um jazz cuja ambiência tem tanto de agradável como de aborrecida.

Rescaldo Douro Jazz 2013

Hurricane

O trunfo escondido foi Hurricane, que estiveram depois em Bragança fora do Festival. No Café Concerto, em Vila Real, este trio de improviso, Rodrigo Amado no saxofone, Gabriel Ferrandini na bateria e Dj Ride na mesa de mistura, provocou automaticamente uma sensação de entrega total por parte do público; se Spyros Manesis era fresco e seco, Hurricane é quente e carnal. A luz vermelha ao fundo levou-nos para danças de acasalamento e paisagens tórridas de jazz denso e experimental. O que pareceu, aos primeiros segundos, esquizofrenia rítmica, é na verdade uma ménage musical. O transe colectivo em que entrámos prolongou-se além do final do concerto, em breves momentos antes dos aplausos, quando ficámos ligeiramente embasbacados com toda a experiência, com a música e com a energia em palco.

Rescaldo Douro Jazz 2013

Seamus Blake, Melo/Santos quarteto

Alguns dias mais tarde ouvimos Melo/Santos quarteto com Seamus Blake. Este jazz, outrora vanguarda, hoje politicamente correcto, aquece os ouvidos e embala as sedes musicais. Seamus Blake é, de facto, um dos grandes saxofonistas de jazz contemporâneo e é igualmente prazeiroso ouvi-lo na companhia do quarteto Melo/Santos (bateria, contrabaixo, piano e guitarra).

O Douro Jazz afirma-se como um festival de nicho, à semelhança do Guimarães Jazz, e inaugura a época de concertos do género. O que o distingue, no entanto, é a polivalência — tanto no sentido de rede, pela colaboração de três teatros para um mesmo fim, como pela exploração de outro tipo de actividades, questionando os limites de festivais do género e tentando captar um público bem mais alargado, e nós fazemos questão de provar a colheita Douro Jazz 2014.