Entrevista | Gnosis Deluche

Vítor Hugo Ribeiro (baixo), Tiago Santos (bateria) e Manuel Ferreira (guitarra) são o trio por trás dos Gnosis Deluche. Banda já familiar para quem, pelos lados de Vila Real, acompanha de perto a cena musical e o que de novo vai acontecendo. Mas, atenção, estes rapazes já estão a ficar crescidinhos, até porque já completaram oito anos de actividade enquanto banda. Ânimo foi o seu primeiro EP, acabaram de editar Nozis, (embora as quatro músicas que agora nos oferecem tenham sido gravadas em Novembro de 2012), e já nos fazem esperar por Deluche, gravado no início deste ano mas ainda em fase de preparação. Para saber mais, o Vítor Hugo Ribeiro disponibilizou-se para ter uma conversa comigo via skype, até porque na altura se encontrava em França. Aqui deixo o resultado.

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Esta é a minha segunda entrevista convosco mas a primeira para o IP4. Começo então pelo início, sem descurar a pergunta da praxe. Como é que os Gnosis Deluche se juntaram? Foi em 2006, salvo erro.

Sim, foi em 2006, a convite do Manuel e do Tiago. Estavam a tocar sozinhos e juntei-me a eles. Não tínhamos qualquer intuito de começar alguma coisa. O sentimento era tocar por tocar. Iniciámos, portanto, as coisas começaram a ser boas e a correr bem. Lembro-me que no fim do primeiro mês já tínhamos seis ou sete excertos de músicas, algumas já editámos, e com o tempo foi tudo ficando mais sério. Levamos esta questão musical de maneira séria mas não de uma maneira rígida. Somos bastante flexíveis em relação ao tempo que temos e, aos poucos, fomos avançando e evoluindo com o que podíamos, continuando sempre com a mesma vontade de nos encontrar. É difícil, cada vez mais os encontros são esporádicos porque vivemos todos em cidades e países diferentes, neste caso.

Exactamente. Leva-me a crer, então, que os vossos encontros e até a gravação e a edição do Nozis, o vosso segundo EP, tenham sido processos morosos devido a essas mesmas distâncias. 

Acabámos de editar um EP que foi tocado ao vivo na sala de ensaios e captado como se fosse um concerto, o Nozis, que engloba quatro canções. O trabalho que temos em espera [Deluche], podemos dizer que está em espera porque como estamos muito dispersos não podemos trabalhar normalmente, surgiu no início deste ano, numas datas em que me desloquei a Portugal para dois concertos com outra banda. Conseguimos conciliar o tempo e ir  a estúdio gravar esses temas que estão em trabalho de mistura e masterização. Mas nós sempre fomos, de certa maneira, assim. Nunca fomos de trabalhar durante um ano inteiro. Encontrávamo-nos de três em três meses ou de meio em meio ano e juntando ideias que iam aparecendo. Cada um tem o seu caminho e íamos juntando aquilo que íamos vivendo. A nossa música também reflecte as nossas influências musicais.

Focaste um ponto interessante. A vossa música é um pequeno caldeirão, desde o jazz, rock, rock progressivo, sem descurar um belo lado experimental. As vossas influências musicais mais directas são assim eclécticas?

É muito variado. Por acaso, no nosso caso, nós os três ouvimos bastante música e muito variada. Desde música clássica, ao jazz, ao rock, à electrónica até.

Não há, então, aquele preconceito de não integrar influências de um determinado estilo musical só porque é aquele estilo musical.

Sim. Nós tocamos aquilo que nos faz sentir bem, aquilo que nós gostamos de tocar. Não pensamos muito, talvez até de maneira egoísta mas penso que seja mesmo assim, se as pessoas vão gostar ou não. Primeiro, queremos gostar nós daquilo que estamos a fazer, isso é muito importante para nós. Depois, claro, as pessoas vão fazendo a sua avaliação, que também é importante. Por exemplo, se fizermos uma música nova, partilhamos a nossa opinião mas queremos mostrar a alguém para que essa pessoa nos ajude com a sua visão.

Mas voltando ao segundo EP, o Nozis. Quando vos entrevistei pela primeira vez, em 2012 creio eu, o segundo EP já estava a ser preparado. Só agora é que foi editado. É curiosa esta espera de dois anos entre a gravação e a edição.

Posso-te dizer que foi gravado em Novembro de 2012. Estamos em Novembro de 2014 e foi agora editado. Não forçamos muito o nosso ritmo. O nosso ritmo é este e tentamos ser bastante coerentes com aquilo que fazemos. Neste caso, este EP foi tocado ao vivo, como disse, e dessa forma captado.  Todo o produto foi feito por nós, desde a captação do som até à mistura e masterização com material que nós temos. O local em que foi gravado nem se assemelha a um estúdio profissional, mas naquele momento era o que nós tínhamos. Estamos sempre a trabalhar. Mesmo lentamente, ao nosso ritmo,  estamos sempre a trabalhar. Só acontece dois anos depois porque, por acaso, voltámos a estar juntos no início do ano para gravar um outro conjunto de músicas. Aí decidimos que teríamos de editar qualquer coisa. Não que tenhamos essa necessidade de mostrar que estamos activos mas por nós próprios. Para deixarmos estas músicas um pouco para trás porque já temos ideias novas, coisas novas que podem acontecer.

Este EP tem o nome Nozis, mas já estamos  à espera de um terceiro EP, o Deluche. Os nomes são engraçados porque acabam por se complementar, duas metades de um só todo. Nozis faz lembrar Gnosis, e Deluche é a segunda parte do nome da banda.

As músicas que gravamos para o Deluche, atenção que o nome pode ser provisório mas é o que assumimos, foram das primeiras que fizemos. Foi como um regressar aos primeiros tempos e , de certa maneira, pode reflectir isso. Mas penso que mais uma vez foi fácil e rápido escolher o nome.

Para a gravação deste EP chegaram a convidar mais alguém? Pergunto isto porque, segundo me lembro, mantinham a prática de convidar outros músicos para tocar. 

Para estúdio nunca convidámos ninguém. Para concertos, sim. Colocámos essa hipótese em cima da mesa mas é difícil porque, para nós os três, já é complicado acertar datas. Mas estamos a colocar essa hipótese em cima da mesa num futuro próximo, é importante.

Para o Deluche já podem avançar com datas? 

Datas concretas ainda não. Queremos deixar assentar o pó e fomentar bem as ideias para o próximo, o Deluche. No fundo, o próximo EP, e agora vou dar a minha opinião pessoal, é como uma celebração dos nossos oito anos de carreira.

Já são oito anos de carreira. Sentes que durante esse percurso a banda amadureceu musicalmente? 

Sim. Os primeiros dois anos foram bastante intensos, com muitos ensaios, muitos concertos. O Animo, o primeiro EP,  nasceu desses primeiros anos de muita convivência, muito trabalho. Mas, acima de tudo, criámos um companheirismo e uma amizade muito, muito forte. Acho que até já  referi isto, se não fosse pela amizade que temos não estaríamos a editar o segundo EP, não estaríamos aqui a fazer esta entrevista. Não estaríamos a pensar num terceiro EP. Não haveria muito futuro porque, dadas as circunstâncias, seria muito difícil continuar uma banda desta forma. Há uns tempos um colega, um amigo, até confidenciou que nos dava muito valor por estarmos em sítios diferentes e continuarmos a trabalhar juntos. Mas é essa amizade, esse companheirismo, esse amor à causa que nos mantém.