Entrevista | GNR

Os GNR dispensam apresentações. Depois do concerto na Caloirada aos Montes ainda tivemos tempo para fazer uma pergunta a Rui Reininho, ele que já cantou a Dunas mil trezentas e quarenta e sete vezes e ainda tira prazer disso. Incansável falou connosco como canta, gesticulando de uma forma que a entrevista escrita não lhe faz justiça — nem a ele, nem ao veludo azul, temos de repetir.

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Um bocado à imagem dos humoristas, que às vezes têm de trabalhar e se calhar não estão tão contentes como têm de mostrar, como é que um músico, quando não lhe apetece tocar, se transforma para poder dar um bom espectáculo às pessoas?

Rui Reininho: Como é que vocês dizem… Foda-se menino! Eu estou felicíssimo por me convidarem a vir aqui, acho odioso a hora a que a gente teve de actuar. Não, para ser sincero, não é para a nossa stamina, o pessoal aqui se tivesse respeito, se fosse um grupo estrangeiro às 10 estavam todos cá. Exigem dos nossos reformados, quase, actuarem a esta hora, que é injustíssimo.

Ora a gente veio fazer isto com todo o gosto, e foi um prazer enorme, tirando uma coisa que me ia pondo surdo, mas isso não se vê. Mas… Eu acho que a vantagem dos GNR é que são uns gajos que têm um precalço aos 56 minutos, depois voltam e voltam a resultar.

“O que vocês exigem dos músicos portugueses… Isso não é nada. Um dia eles morrem!”

É um prazer fantástico estar aqui, é o que eu gosto de fazer, e tive muito prazer e o som acho que estava porreiro, acho que foi um bom concerto, realmente… Agora não é uma hora adequada para fazer sons, não, quer dizer, isto é muito *POM-POM*, estou a ser sincero, nenhum bife, não é, nenhum Nick Cave, os gajos que eu gosto, por muito respeito que tivessem por Vila Real aceitava tocar a esta hora, por isso acho que vocês deviam ter mais respeito pelos músicos portugueses, naquela de dizerem assim, esta merda pode-se passar às dez e meia, e onze, e continuarem a curtir e meterem tudo o que quiserem na cabeça. Agora não é uma hora aceitável, mas… [olha para lado] Depois aqueles olhos tão lindos afastaram-se dos meus e eu não posso dizer mais nada.

A gente fica até às três, pareço daqueles gajos chatos que ficam até de noite, não é, a tentar engatar a gaja, mas não é, não… Não é respeito pelos músicos portugueses, eu mantenho isso. Ninguém no mundo faz isso, nós no Rock in Rio fomos chutados para escanteio porque o Sting diz assim caguei, eu toco às dez e vocês ficam para últimos. O que vocês exigem dos músicos portugueses… Isso não é nada. Um dia eles morrem! Claro que com os GNR estão lixados porque o GNR nunca morre! Então vão ser oito da manhã, sete da manhã e nós estamos aí. Portanto estou a ser o mais sincero, que é o que vocês queriam não é, sinceridade e sem… Não custa nada.

“Claro que com os GNR estão lixados porque o GNR nunca morre!”

É porreiro estar aqui, é uma terra maravilhosa… Com uma costela, com uma mãe transmontana e tudo não sei quê, tenho o máximo prazer vir aqui e é muito melhor do que estar casa a olhar para os resultados do Braga-Académica e dessas merdas. E nós fazemos isto com muito prazer, só que devia ser mais cedo, devíamos reconstruir-nos, não é? Todo o país, construir para fazer uma coisa mais civilizada.

Eu comecei quando era miúdo a ver os shows, meninos!, em Inglaterra que eram às sete da tarde, no Marquee, não é? O rock era às sete. Porque é que um gajo tem de vir assim às 3 ou 4? Está errado. E é a última vez que venho aqui a esta hora. Para o ano vimos mais cedo e espero que vocês estejam aqui, nem que seja de manhã, opa, não é normal, não é apetecível, isto é bom, untz-untz-untz-untz e é um erro. Tirando isso está tudo certo, estou muito feliz e adoro aí o pessoal e uma das coisas que estava a ver ali para o fundo e… tirando este rapaz [Ari] que está com um penteado e uma barba igual ao meu filho, quase, mas as raparigas eram muito bonitas.