Se a Fátima Pinheiro consegue eu também!

Corria tudo tão bem na passada quarta-feira. Estava a ter uma tarde tão agradável, daquelas em que sabe mesmo bem ter a cabeça vazia de pensamentos e não atentar em mais nada a não ser no trabalho que se tem à frente: o relatório de estágio para finalizar o meu mestrado em Ciências da Comunicação, variante em jornalismo. A casa estava vazia, (haja quem trabalhe e vire as costas ao ócio), como tal não tinha de ouvir a minha mãe dizer isto pela milésima vez: “é uma autêntica vergonha que uma rapariga da tua idade, QUE NADA FAZ, ainda tenha a cama por fazer”. Também não tinha de responder pela milésima vez, “mas porque raio hei-de perder tempo a fazer camas se à noite se desfazem?” Também não tinha de ouvir a minha avó dizer isto: “Vale bem a pena estares tanto tempo afocinhada, [a palavra é mesmo assim], nessa treta do computador. És mesmo burrinha, havia de ser comigo!!! O QUE É QUE ESTÁS A FAZER NA FACULDADE, MESMO?” Num passado não muito distante chegou-me mesmo a dizer isto.

anafernandes

Por muitos anos que viva, juro-vos que a palavra afocinhada e burrinha irão estar, para todo o sempre, gravadinhas na minha rica cabecinha. Já fiz as pazes com a minha avó, mas depois dos sacrifícios pelos quais passei durante o meu percurso estudantil, ou seja, neurónios em curto-circuíto e noites mal dormidas, fiquei sentida com este comentário mais do que perverso. Quanto à pergunta que me fez, bem, é válida, eu é que ainda não encontrei a resposta. Sei lá o que ando a fazer na faculdade?!? Avante, reparo nos feeds da minha página do facebook e vejo inúmeras partilhas referentes a um só artigo, «Larguem o Machete! Há o Soares, “sei lá, lembrei-me agora”», publicado na página online do Expresso, da autoria da Fátima Pinheiro. Fiquei logo mal disposta e uma raiva indiscritível cresceu dentro de mim. O que é? Vá lá, digam-me o que é? O que é que os textos daquela senhora têm que os meus não têm? Porque é que a Fátima Pinheiro tem direito a um blog no Expresso e os jornais nacionais não me ligam? Ah, espera, a senhora não é jornalista, ok, por isso é que o texto está escrito daquela forma. O dito jornal até pode fechar os olhos a esse facto e dar-lhe o patrocínio pelas grandes ideias que possa ter. Mas… ideias?!? Onde estão que não as vejo!?! Nunca vi um texto com tantos argumentos baralhados e desconexos na minha vida. Nem chegam a ser argumentos. A Fátima Pinheiro consegue dar erros de concordância e sintaxe assombrosos que nem uma criança da terceira classe daria. Eu própria confesso que há coisas que me escapam: gralhas, repetições, frases extensas ou que, por vezes, me passam completamente ao lado. Há jornalistas profissionais com uma qualidade inquestionável que podem cometer os mesmos erros e isso, por muito que custe a engolir, não me incomoda minimamente. Percebo o que possa levar a tal e nunca digo desta área não beberei. Mas esta senhora não tem ideias nem sabe argumentar… nem nada. Portanto, escrever bem não escreve, isso é óbvio, as ideias são demasiado vagas nem parece ser especialista de coisa alguma, hum.… O que será?

Alguém deveria dizer aos meus editores do passado, aos que me puxaram as orelhas por vírgulas mal postas e afins; aos que me gritaram que reportório é uma coisa e repertório outra; que um filme nunca é transmitido mas sim exibido, que afinal isto de escrever num jornal nacional é mais fácil do que parece. Mas o que será? Se escrever num jornal nacional é mais fácil do que parece o que está a falhar? O que é que os textos desta senhora têm que os meus não têm? Já vimos que pelo texto em si não chegamos lá. Se calhar é algo exterior a isso. Será que não consigo emprego num jornal pela minha atitude? Deveria ser mais persistente, talvez? É melhor não irmos por aí. Se fosse mais persistente os meus antigos editores vinham de Lisboa a Mirandela enfiar-me num colete de forças, amordaçavam-me e colocavam um processo qualquer no tribunal que me impedisse de respirar o mesmo ar que eles. Isto já me está a dar a volta à cabeça e não encontro uma resposta. Se os meus textos forem mais incompreensíveis que os desta senhora juro que me atiro ao Rio Tua e é já.

A verdade é que o Expresso é o semanário mais vendido em Portugal. Sim, esta senhora não é jornalista, limita-se a ter um blog: quem o quiser ler pode fazê-lo, quem não quiser que o ignore. A questão não é nem nunca foi essa. Eu penso é no que está por trás. O que é que faz um jornal nacional patrocinar os textos da Fátima Pinheiro? Se têm o carimbo do Expresso deveriam preencher alguns requisitos mínimos. Odeio os textos de opinião do Henrique Raposo mas vá lá, disfarçam. As perguntas são outras. Será que o referido jornal tem consciência do que está a publicar no online? Será que a Fátima Pinheiro é chamada à atenção para ter mais cuidado com o que escreve? Será que há um editor a ler os textos dos blogs? Será que a redacção do Expresso sabe, ao menos, quem é a Fátima Pinheiro? Se as respostas a estas perguntas forem um redondo não, já estão imaginar como anda o panorama da imprensa nacional. Mal, muito mal. É triste porque o Expresso faz falta, é triste porque certamente terá jornalistas capazes que farão a alma do jornal. O que me preocupa é que, no fim, a conclusão a que se pode chegar é esta: o selo de garantia da imprensa deixa de ser sinónimo de qualidade. Isto é um desrespeito tanto para os jornalistas e opinion makers que se levam a sério e dão o seu melhor, como para os aprendizes que estão a sair das faculdades e aprendem a relativizar as palavras “seriedade” e “proa”. Para quê, então, tanto esforço se as coisas se banalizam desta forma? Para quê se as pessoas se veem obrigadas a desconfiar da informação que lêem? Para quê se a própria redacção se vê obrigada a dizer “quero lá saber disto.” Não podem existir jornalistas desinteressados, isso é andar em contra-mão, um contra-senso. Não, no jornalismo isso não pode acontecer, isso seria grave de mais.

Mas se me disserem quem no Expresso está incumbido de encontrar estas pérolas eu juro que vou lá. Vou lá e o homem há-de ler os meus textos nem que tenha de acampar durante um ano à frente da casa dele. Têm é de me pagar a viagem até Lisboa porque os preços do autocarro estão pela hora da morte. “Pois se me pagarem, a Ana já sabe que terá de ir por aí.” Se a Fátima Pinheiro consegue eu também. As voltas que José Régio deveria ter dado na sua tumba. Só uma perguntinha final, o que é que estamos a fazer na faculdade, mesmo?

Comentários

  1. Anónimo diz:

    A tua avó não estava totalmente correcta. Que és mesmo burrinha não há dúvida… mas tens que afucinhar mais.

    1. Anónimo diz:

      A ti serviu-te a carapuça.