Guia de sobrevivência para (futuros) designers

Se és um aspirante a designer com acesso à internet, há uma grande probabilidade que vás passar parte do teu tempo a ver portefólios no Behance e a afundar na espiral depressiva do “há tanta gente mais talentosa do que eu, porque é que ainda tento?”. Com os anos de universidade fui desenvolvendo truques para sacudir a ansiedade e pensar em coisas que me façam sentir melhor comigo mesma. Considerem isto um momento de life coaching para gente extremamente autocrítica:

1 — Há SEMPRE alguém melhor.
Quando a minha amiga Sofia disse aos pais que queria ir para artes, a mãe dela avisou “Mas sabes que vai haver sempre gente melhor que tu, não sabes?”. Ainda que seja um bocado cruel, não é um mau motto. A não ser que sejas o Michael Phelps, vai haver sempre gente melhor, mais bonita e/ou mais bem sucedida do que tu. Ponto. Agora que aceitámos isso podemos seguir em frente e continuar a trabalhar.

2 — Até o Michael Phelps fica nervoso.
Uma vez fui ver uma Comics Fight. Era um desafio em que um juíz dizia uma palavra, e dois artistas tinham de desenhar alguma coisa com piada em 2 minutos. O vencedor era escolhido consoante o barulho feito pelo público. Um dos participantes era uma ilustradora um bocado famosa (pelo menos na pequena comunidade artística dos países bálticos). Mas quando a conheci, não parecia nem de longe a pessoa bem sucedida e confiante que eu imaginava. Estava super nervosa por ter de desenhar à frente de tanta gente, e disse-me que não era nada boa neste tipo de desafios rápidos, e não conseguia parar de transpirar. Eu sei que é um bocado mesquinho, mas pensar em como as pessoas que eu admiro também vacilam e ficam nervosas de vez em quando, deixa-me muito satisfeita.

3 — Mais para aprender.
Quando fui para a faculdade, vi-me rodeada de gente que sabia muito mais de design do que eu. Dominavam o software, conversavam sobre tipos de letra e tinham piadinhas privadas sobre o Joseph Muller Brockmann. Eventualmente decidi não pensar tanto no quão pouco eu sabia, e mais naquilo que podia aprender com eles.

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Agora que não estou a estudar, há uma distância fisica muito maior entre mim e as pessoas dos portefólios behance. Já não tenho gente super talentosa ao meu lado a comer sopa na cantina. Contudo, descobri que fora do meio académico os artistas são geralmente simpáticos e gostam de falar deles próprios e do seu trabalho. O meu melhor conselho é: não se fiquem só por ver os portefólios bonitos das outras pessoas — leiam os blogs deles, vão às exposiçoes, inscrevam-se nos workshops, façam perguntas. Tentem descobrir quais são os seus processos de trabalho e no que é que se inspiram. É facil ver um trabalho finalizado, pensar “gaaah, isto é genial, nunca vou conseguir fazer nada assim” e ignorar que o que estamos a ver é só a ponta de um grande iceberg de trabalho árduo.

4 — Há piores.
Nos tempos de faculdade entretinha-me muito a ver os sites de ilustradores piores que eu, para me sentir um bocadinho melhor comigo própria. Era um prazer que só partilhava com alguns dos meus amigos mais próximos, porque achava que era um bocado patético regozijar-me com a falta de talento alheio. Com o tempo, descobri que toda a gente faz isso! (ou então todos os meus amigos são pessoas terríveis.)

Mas aviso desde já que este não é o método mais saudável. Até porque enventualmente uma destas pessoas que achas medíocres vai conseguir o emprego/prémio/exposição/visibilidade que tu querias, e quando deres por ti estás a ter acessos de raiva e a rasgar a Time Out do Porto, por terem publicado um artigo sobre o trabalho dele/a.

5 — Telefona ao teu maior fã.
Tens mérito! Tens capacidades! És interessante! E se auto-elogios não ajudarem telefona à tua mãe e pede-lhe para ela te relembrar que milagre vivo cheio de graça tu és, e de como tudo que fazes é lindo maravilhoso, desde as colagens com massinhas do infantário aos projectos editoriais de Estudos do Design.

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6 — Vais falhar, vais sobreviver.
Antes ficava tão ansiosa com a faculdade que acordava às 4 da manhã com o estômago a arder. Ver televendas à espera que o Kompensan faça efeito é o oposto de uma vida feliz.
Para evitar insónias, tento pensar em como todas as coisas que me preocupam: entregas, exames de condução, relações falhadas, entrevistas de emprego são só pequenos percalços no vasto universo que é a minha existência.

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Foi assim que eu reprovei a Tecnologias de Impressão no terceiro ano. Era a véspera da entrega, tinha tempo suficiente para fazer o relatório, mas provavelmente ia passar mesmo à rasca, dormir pouco e stressar muito.
Por isso cantei o karaoke do Eye of the Tiger no youtube, e disse para mim própria: Não. Isto não vale a pena. Mereço ser feliz. e BAM! Chumbei a uma disciplina pela primeira vez na vida.

E ninguém morreu. O mundo não implodiu por causa do meu falhanço. Não aconteceu nada.

Se o que fazes te deixa mais miserável e ansioso do que devia, estar bem é mais importante.