Chama-se Noitada de Lamego, acham que é de quê?

O dia da Nossa Senhor dos Remédios, a padroeira de Lamego, é celebrado a 8 de setembro. A noite que antecede esse dia chama-se Noitada. E só por aqui já podem imaginar do que vos vou falar.

São 16 horas do dia 7 de setembro e ouvimos foguetes anunciando a saída da Batalha das Flores: um desfile de carros alegóricos, ranchos, grupos de samba, grupos de bombos, que começam a percorrer as ruas da cidade. Este ano calha num fim-de-semana e o ajuntamento de gente é maior do que o habitual. Feito o percurso, a Batalha das Flores recolhe e a Noitada começa. Das duas uma, ou as pessoas trazem consigo o seu farnel, e com isto não estou a falar de sandes mistas, mas sim de chouriços, salpicões, presuntos, moiras, colesterol à séria portanto, e claro, a garrafa de vinho para que nada fique a meio do caminho do estômago. Ou então aproveitam-se as tasquinhas montadas na avenida para aí se manjar uma bela de uma tainada. Seja como for, a barriga fica cheia porque a noite é longa e muito álcool está para descer.

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A Noitada em Lamego é aquela noite onde vais pagar copos a toda gente, onde toda a gente te vai querer pagar um copo, onde vais estar com amigos que não vês muito provavelmente desde a Noitada do ano passado, onde te vão acontecer coisas estranhas como ires comprar um maço de ventil a uma senhora que não quer sair do carro para não perder o lugar.

São 22 horas e decidi ir dar um giro pela cidade. Antes de atravessar a rua tive de esperar que o grupo de bombos passasse, andam por aí, para cima e para baixo há horas provavelmente. Chego à avenida e os grupos de cantar ao desafio são inúmeros, munidos de acordeões e concertinas, bombos e ferrinhos, os mais velhos já ostentam a cara bem avermelhada, dando indicações de que a hidratação está a ser levada a sério. Fico por ali a ouvi-los um bocado e enquanto isso peço um copo de vinho tinto, estava a sentir-me fraco e achei por bem alimentar-me.

Subi a cidade e fui em direcção ao Jardim da República. É tradição ir lá ouvir um bocadinho do pimba e marcar pontos nas diversas barraquinhas que vendem finos. O ritual prossegue e à meia-noite é hora de levantar um bocadinho a cabeça, não para despejar mais um copo, quer dizer também pode ser, mas o objectivo é dar uma olhadela no fogo-de-artifício lançado a partir da mata dos Remédios, ficando com pano de fundo a Igreja da santa padroeira. O espectáculo já não é o de outros tempos, a época das três (!) sessões de pirotecnia já lá vai, e por este ano uma é suficiente.

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Copo puxa copo, conversa puxa conversa, e com isto são para aí duas da manhã. É altura de descer um pouco e ir até à tão movimentada rua da Olaria, palco na semana passada de concertos do Zigurfest. Esta rua já foi uma das mais importantes para o comércio local. Entretanto as lojas foram fechando e agora tem ao longo dos seus, digamos, cem metros, quatro bares. À porta de cada um, começavam-se a preparar alguns dj’s para dar início a sons mais actuais, deixando para trás os bombos, acordeões, concertinas e ferrinhos. Os mais velhos já não têm tanta pedalada para estas andanças e amanhã é dia de assegurar lugar na frente para ver a grandiosa procissão do Triunfo, onde andores carregados por bois percorrem a cidade, sendo sempre um dos momentos mais emocionantes para muita gente.

A noite segue por ali, escusado será dizer, bem regada, e em óptima companhia. Os primeiros raios de sol começam a iluminar aquela que parecia uma noite interminável. São 7 da manhã e é hora de mudar de sítio. Vamos até um café com uma esplanada tomar o pequeno-almoço.

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Ficamos por ali uma horita e tal, a apreciar quem chega da tão longa e abusada noite, a ver quem se senta e pede connosco o pequeno-almoço, quem bebe ainda mais um copo para acabar (será sempre essa a desculpa para se beber àquela hora), e ainda ver com quem estivemos no início da noite, ainda sóbrios.

Normalmente quem vem à Noitada nunca se arrepende, a não ser que tenha muito azar e às onze da noite já esteja arrumado para canto, mesmo assim nem esse no dia seguinte vai dizer que não curtiu, vai dizer mas é que foi a melhor noitada de sempre.

São 9:30 da manhã, está demasiado sol, é melhor ir para casa.
E assim foi.