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Paddock inaugura no MVV a 16 de Maio

NOVO-520

A abertura de Vila Real a várias manifestações da cultura contemporânea tem sido exponencialmente maior nos últimos anos. Além daquilo que se pode chamar de produção interna, e que acontece sobretudo na área da música, há também um papel muito relevante a ser desenvolvido pela “importação” de programação cultural que expande os horizontes da própria cidade. Exposições, espectáculos e outros eventos vão, pontualmente, enriquecendo o panorama cultural local através da apresentação de novas formas de expressão.

Neste sentido, um momento importante foi, sem dúvida, a exposição Parking—Grátis que em 2011 apresentou no Museu da Vila Velha e na Biblioteca Municipal um conjunto de trabalhos de alunos do 4º ano da licenciatura de Artes Plásticas da Faculdade de Belas Artes do Porto. Agora, precisamente 4 anos depois, abre no Museu da Vila Velha a exposição Paddock, neste caso organizada por alunos do Mestrado em Práticas Artísticas da mesma instituição (alguns dos quais tinham já exposto na referida mostra de 2011).

A inauguração é no dia 16 de Maio, Sábado, às 21h30, coincide com a Noite Europeia dos Museus e contará com um um concerto-instalação de Haarvöl. Os trabalhos mantêm-se em exposição até ao dia 7 de Junho.

Ficam em baixo as palavras de Fernando José Pereira sobre a Paddock:

 


 

Uma pesquisa rápida na Internet sobre a palavra paddock revela duas variantes curiosas. Uma primeira que encaminha para o mundo do automobilismo e uma outra que direcciona o significado para a equitação. Em ambas, a centralidade do significado remete para o abrigo ou edificação onde pessoas ligadas às respectivas actividades podem ou estar a trabalhar ou a fruir o evento a elas associado.

Para nós o significado da palavra remete obviamente para um outro universo: o da arte. Um artdock se quisermos, como referência heterodoxa à ideia de museu. Um museu que não se quer ensimesmado, mas que, ao contrário, se encontre atento ao real que o contextualiza, ao que está lá fora. Tal como no paddock, o que se passa no seu exterior é que determina a sua importância.

As obras que agora se mostram no Museu da Vila Velha têm um posicionamento similar. Querem ser parte integrante do relacionamento que a arte tem com a realidade que a circunda e forma. Na sua configuração peculiar, reconhece o real como exterioridade decisiva a mostrar no interior do museu.

A exposição enquadra-se numa espécie de “obsessão” com o real e com o exterior que o Mestrado em Práticas Artísticas da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto possui e de onde, ao longo dos últimos dez anos saíram os trabalhos que os artistas aqui presentes decidiram mostrar. O MPAC afirmou desde o seu início o gosto pelo risco, pela discussão e experimentação. Estas noções são, por isso, decisivas na apresentação que agora se realiza, seja na ampla abertura que as obras contêm, escapando deliberadamente a classificações e rótulos ou na intensa experimentação que manifestamente é observável na diversidade apresentada: são pinturas que se tornam tendas/abrigos, são recibos e fragmentos da banalidade do quotidiano que se transfiguram em pinturas, são vulgares caixas de cartão que se apresentam como lanternas mágicas, são pedras de um túnel que se tornam protecções de sons, etc. Todo um universo individualizado que, contudo, se apresenta de forma dialogante e desafiante na recepção que propõem ao espectador. A ocupação do museu de forma não neutral determina, também, uma postura que quer ser interventiva e, ao mesmo tempo, potenciadora de uma temporalidade estendida tão necessária à fruição da arte.

Fernando José Pereira

Abril 2015