Entrevista | Quem é o Bob?

No arrancar da Caloirada aos Montes e na noite em que o positivismo era mais do que necessário, Quem é o Bob? abriu o palco. Um concerto que para nós já não é novidade mas não é da novidade que ele vive: vive sim do fenómeno de transfiguração do público académico para uma massa de fãs de reggae, que se baloiçam, cantam em coro e reencarnam Marleys. Há perguntas retóricas e Quem é o Bob? é uma delas.

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Vocês já são uma presença marcada, é o quinto ou sexto ano que cá vêm. Como é que é voltar a Vila Real? Já sentem algum carinho por este público académico?
É sempre bom. O pessoal aqui de Vila Real tem alta vibe, aquela coisa mesmo do reggae, aqui o pessoal gosta bués, puxam pela malta a tocar, e estão sempre a cantar, e cantam bem, os caloiros também são altamente, fazem muito barulho, é mesmo fixe.

As bandas de covers sofrem alguma xenofobia musical, não é um género que suscite muita simpatia do mundo da música em geral. Vocês tocam desde 2005, já sentiram alguma vez isso?
Não, por acaso a gente nunca sentiu isso, e se a gente já tem esse tempo todo… É porque é algo diferente. São as músicas do Bob, também tocamos o reggae de Kussondulola, tocamos Manu Chao, e damos aquele toquezinho à nossa maneira. Por isso é que acho que a gente até tem tocado e tem sobrevivido a essa xenofobia perante bandas de covers. Eu gostava de dar o salto, imagina, tocar em festivais, aí é que entra a verdadeira xenofobia, e não podem tocar bandas de covers, mas eu acho que isso não tem… Imagina, se a gente for tocar ao Rock in Rio, por exemplo, se calhar o pessoal curtia na mesma. Não estou a dizer palco principal, por exemplo, no Sudoeste, naquele palco alternativo… A gente podia tocar. Mas aqui é difícil.

A filosofia original reggae tinha muito a ver com crítica social e um determinado estilo de vida, ainda que tenha passado por fases mais comerciais, acham que ela assume outra relevância agora? Acham que o público torna a procurar mais no reggae além da música?
Acho que procuram no reggae alguma paz, alguma paz de alma… E não é só paz, porque se leres as letras do Bob é sempre contra a sociedade onde vivemos e agora, se calhar, como estamos nessa época um bocado difícil as pessoas começam a procurar mais isso, outro estilo de música, outra maneira de ver a vida, outra maneira de viver. A cena do reggae não é fumar ganzas e sentares, o pessoal aqui é que banaliza um bocado. Aquilo é um modo de vida, desde alimentação, preocupam-se também com o físico, em ter a mente sã, o corpo são. Não quer dizer que é só fumar erva e teres letras e a música… também é, mas não é isso que faz um rasta. Mas eu não sou rasta! Só estou a falar do reggae e de como toda a gente banaliza isso.

Para acabar, um álbum para ouvir num domingo à tarde.
O Survival, do Bob Marley.

Comentários

  1. […] Foi Quem é o Bob? a abrir a semana de concertos. As bandas de covers nascem da resignação, é impossível ouvir o Bob original por isso contentemo-nos de igual maneira com estes que se perguntam todos os anos quem ele é. E toda a gente fica contente sem queixas, mesmo eu não sabia saber tantas letras de cor e o jah que há em mim conseguiu surpreender-me. O vocalista disse-nos depois que sentiu o público em baixo, que havia alguma coisa que os perturbava, acredito, no entanto, que Quem é o Bob? melhorou o ambiente e que foi depois de One Love que os ânimos começaram a subir (e continuaram pelo resto da semana). […]