Rescaldo do FMAB 2013

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Fujamos à ideia de que em Trás-os-Montes nada se passa. Essa conversa já cheira mal e bastava que tivessem vindo connosco a Bragança por altura do Festival de Música Alternativa para mudarem de opinião. Isso, duas canecas de charabanada e o mundo seria vosso.

Ainda com o coração apertado por termos perdido o primeiro dia de festival, chegámos ao cair da noite debaixo de uma gigante lua laranja e agradecemos a quem nos fez o favor de atear incêndios o verão inteiro. Não nos esqueçamos que sem estes senhores teria sido o verão mais frio dos últimos 500 anos!

Labaredas à parte, em boa hora decidimos viajar até Bragança. Nesta que é a segunda edição do Festival de Música Alternativa, a primeira impressão grita crescimento. Palco maior, tenda de backstage, tudo “como manda a sapatilha”. Estivemos à conversa com o Nuno, da Dedos Biónicos, e percebemos que só com muito amor se levam estes projetos avante.

Evento de entrada livre, fugindo aos apelos apetecíveis do capitalismo, procurando agradar a todos e ao mesmo tempo aproximar as pessoas de sonoridades mais afastadas do seu vocabulário musical, é um exemplo de como se organizam festas com baixos orçamentos.

1º dia
A abertura das hostilidades deu-se numa comunhão perfeita entre portugueses e espanhóis e a nossa ausência física não nos impediu de recolher as melhores impressões. Nas palavras da organização, grandes concertos, ambiente ainda melhor mas pouca gente. De salientar a atuação de Alek Rein, considerado unanimemente a revelação do evento.

2º dia
Aproveitando a maior liberdade que o dia de sábado proporciona, desta feita a festa começa mais cedo e nada melhor do que uma matiné nas imediações do castelo, no Duque de Bragança Galeria Bar Concerto. Provando o ecletismo a que se propõe a organização assistimos às atuações do DJ António Braun com a sua eletrónica do Minimal ao Tech House e dos espanhóis provenientes de Ourense Uppercut com o seu caldo de Stoner com Post Rock, passando pela World Music. Belas entradas, e o reboliço é retomado à noite.

Hora de jantar e cai a noite na cidade. Sentimos a vontade de cantarolar a canção  “A cidade, até ser dia”, que levou a cantora Anabela ao festival da canção no ano de 1993, mas por razões de decência não o fizemos. Optámos por fazer tempo numa esplanada a conversar com o proprietário de um bar e no meio das canecas ficámos a perceber um pouco da origem da charabanada e a importância que eventos com o FMAB têm para cidades do interior.

E por falar em interior, nada como escolher uma banda da região para aquecer uma noite já de si quente. Estamos a falar dos The Mad Moiselle, banda de Vila Real e que conta com um concerto no relvado de Paredes de Coura num passado bem recente. Mais consistentes, fruto dos vários concertos que têm dado, fazem todo o sentido num festival que pretende também chamar a si os produtos regionais.

Aquecimento feito, estamos prontos para as correrias dos Quelle Dead Gazelle. Com a corda toda, os lisboetas fizeram questão de mostrar às dezenas que assistiam ao concerto o porquê de terem tocado em alguns dos maiores festivais deste país. Volume, dança, África, subtileza, estava lá tudo.

Foi do backstage, enquanto trocávamos impressões com os Quelle Dead Gazelle, que ouvimos os primeiros acordes dos Long Way to Alaska. Os bracarenses, cheios de boa onda, envolveram quem os ouviu numa teia de sonho. Aliás, ainda hoje sonhamos ter uma camisa colorida à Nuno Abreu.  Mantiveram a chama acesa para os Siesta, que fecharam a noite confirmando o que se esperava deles. Os nativos de Valência apresentam-se como intérpretes do punk troglotrónico e quem somos nós para refutar? Bem, de Siesta só o nome. Nada preguiçosos, puseram o pessoal a abanar o capacete.

Fechava-se assim o palco mas desengane-se quem pensava que noite tinha chegado ao fim. O after não tardava a começar no Moda Café, e abençoados os presentes que assistiram a um verdadeiro rodízio de vinil, pelo Fábio ou DJ Quesadilla e por um tal de John Fitzgerald, mais conhecido por DJ Fitz. Verdadeira trip musical, fomos aos quatro cantos do globo e ainda estamos à espera que nos convidem para integrar uma comitiva para visitar outros planetas.

Resumindo e concluindo, já reservámos lugar na fila da frente do ano que vem. Não comemos posta mas regressámos tão cheios e satisfeitos como se o tivéssemos feito. Em boa verdade, nada surpreendente para quem, como nós, está habituado ao terno abraço dos montes transmontanos.

Quero agradecer ao Nuno Biónico, à Carmo pela hospitalidade e ao Artur Coelho e o seu “Host Me” pela colaboração. Quando se trabalha assim, trabalho não é trabalho.

(fotografia via facebook FMAB)