Rock Nordeste | Um festival que também é uma cidade

A 26 e 27 de Junho marca-se o regresso do Rock Nordeste a Vila Real, com um conceito, formato e curadorias renovadas. Apresentando um cartaz que dificulta comparações com anos recentes de concertos nesta cidade, o festival representa também uma boa oportunidade para visitar este cantinho isolado do país, coincidindo ainda com uma altura do ano fervilhante em actividades.

rn_print

Antes que a silly season aplique o seu analgésico geral na populaça, o Rock Nordeste junta-se às celebrações das Festas da Cidade (cujas consequências after-hours/não-oficiais são sempre mais memoráveis do que o programa oficial), às corridas (outro regresso rico em níveis dB elevados) e a uma série de outros eventos mais pequenos (mas de forma alguma menos interessantes) que durante todo o ano, de maneira cada vez mais marcada, dão vida a uma cidade que existe no limbo de um panorama cultural muito incerto. Um panorama, no entanto, cada vez mais reactivado pelas iniciativas jovens, arriscadas sim, mas empreendedoras, não de bens financeiros mas de felicidade humana.

No Rock Nordeste, além da alegria colectiva que certamente tocará o público que anseia pelos concertos de gente como Dead Combo ou Capicua, celebra-se também Vila Real, uma cidade mais viva do que morta. Uma cidade que, pouco a pouco, se volta a mostrar convidativa (se é que alguma vez o foi); e que melhor convite poderia haver do que estes dois dias (ou mais, se assim quiserem) de boa música, num cenário agradável e de entrada gratuita (podia acabar o texto aqui)?

Casa dos Arcos dos Marqueses de Vila Real, c.1900, via este Guia

Casa dos Arcos dos Marqueses de Vila Real, c.1900, via este Guia

Há ainda património a visitar, aquele que sempre cá esteve e esperemos que continue a estar. Há-de haver mais uma ou duas obras arquitectónicas para atribuir ao Nicolau Nasoni, ou mais um recanto com uma história mirabolante de um qualquer herói transmontano, ao estilo de Carvalho Araújo ou Aníbal Milhais. Porque nesta cidade as pequenas coisas compensam-se com grandes histórias e vale sempre a pena vir e fantasiar mais um bocado. Há muito e bom vinho (também há do mau, para os esquisitos) e a comida sabe sempre melhor nos sítios sem selo da ASAE (nem recibos). Não há muito que em palavras se possa dizer para explicar o porquê de este ser um evento especial, numa terra especial que vive um momento (adivinharam) especial. Apesar de esta ser uma cidade — e num olhar mais abrangente, uma região — que continua a mandar embora quem nela nasce, os que ficam vão criando razões para, pelo menos, voltar. O Rock Nordeste é uma boa razão, a praia faz-se depois.