Semanas Académicas, gregos e troianos

A maior parte dos assuntos são de importância relativa. Se em mim os resultados do campeonato despertam pouco ou nenhum entusiasmo, para outros é uma questão vivida intensamente. O assunto deste artigo é semelhante, por isso, se algum leitor que tenha carregado neste ligação achar que o assunto das Semanas Académicas tem tanto de específico como de frívolo, pode abandonar agora, sem ressentimentos.

Esta semana a AAUTAD lançou o cartaz para a Semana Académica de 2014 e isso só não resultou em apedrejamento porque dava muito trabalho, além de não ser permitido por lei. Em termos práticos não chega sequer a haver discussão porque parece existir um consenso de que é o pior cartaz de sempre numa Semana Académica em Vila Real. Caso existam dúvidas, não estamos a falar da paisagem egípcia azul ou dos ziguezagues tímidos que fazem lembrar uma versão anémica da imagem gráfica da Caloirada aos Montes, não, o assunto são mesmo os nomes em cartaz.

Porque é que dizem ser o pior? A maior parte não aguentou o delírio de ouvir Santamaria e Quinta do Bill com menos de 5 dias de intervalo, afinal é como voltar a 1997 e não faz bem ao coração um remember desta dimensão; os outros reagiram mais lentamente enquanto tentavam perceber quem é que é afinal o Johne d’Luka ou quem é que terá tido a ideia de fazer o booking da Carolina Torres para DJ. Confesso que sinto alguma curiosidade em ouvir ao vivo a “Falésia de Amor”, além de que é uma oportunidade única para verificar a qualidade do envelhecimento da população portuguesa, quanto aos “Filhos da Nação”, estou indecisa se pôr grupos de universitários a cantar “no canudo vive a esperança” nos tempos que correm é inovador ou só irónico.

Este é o Johne d’Luka

Isto de programar uma Semana Académica tem ciência, no fundo é como planear um festival para uma ampla variedade de pessoas que a única coisa que têm em comum é estudarem no mesmo sítio e normalmente gostam de beber álcool, por isso o resultado não tem grandes variações. Desse prisma, este é o cartaz mais original do ano: enquanto Blasted Mechanism, Xutos e Pontapés, Quem é o Bob? e Quim Barreiros continuam no circuito habitual, a UTAD finalmente deu ouvidos a todos os queixosos das repetições e ignorou as bandas que correm as capelinhas das Queimas, apostando no factor surpresa. O que está a ser apelidado de má estratégia pode, afinal, ser um acto de coragem, ou uma profunda manobra de marketing, ou só calhou.

Escusado será dizer que a gravidade deste assunto é mínima, é óbvio que quem ia à Semana Académica de 2014 não deixa de ir por causa do cartaz, isto considerando o público-alvo certo de universitários cujas memórias mais antigas que têm não são muito anteriores a 1994.
Há sempre os que ameaçam comprar bilhete para outra Queima. Bem, sim, aconselho vivamente irem ver o Pedro Abrunhosa ao Porto, junta-se o curso todo e leva-se uma barraquinha portátil, deve ser quase a mesma coisa e dizem que ele tem uns óculos novos, especiais para a ocasião e com armação tigresa que vão fazer furor. Castelo Branco tem uma banda curiosa chamada Oásis, o que é a cara do processo por plágio, e Os Azeitonas também lá estão, mas admito que ao pensar neles cheira-me sempre a salmoura.

Scooter na Semana Académica AAUTAD 2015

Pessoalmente acho que o cartaz da Semana Académica deste ano chega a ter piada da mesma forma épica que isto tem piada, em qualquer altura vai ser incrível juntar o David Hasselhoff e os Vengaboys com o Kit e as Marés Vivas no Algarve, mas por mais que seja hilariante, só consigo imaginar algumas situações em que pagasse para ver.

No final há, então, três conclusões possíveis, 1 que para o ano a AAUTAD devia fazer um remember a sério e trazer nomes perdidos como Scooter, Eiffel 65, Alice DJ ou The Cartoons (a lista é infindável), de certeza que o cachet não anda muito em cima, 2 na impossibilidade de agradar a gregos e troianos, vai-se sempre escolher música que toda a gente saiba a letra, ou 3 é só mais uma semana académica e para o ano ninguém se lembra.