Sugestão do mês | Bubba Ho-Tep

1977, meados de Agosto. O mundo chora a morte de Elvis Presley, a lenda do rock’n’roll tornado um zombie badocha de Vegas movido a cocktails de pílulas coloridas e promiscuidade com miúdas adolescentes. Algures no país da Stars and Stripes, o verdadeiro Elvis começa a pensar que se calhar trocar de lugar com um sósia para descansar uns anitos não terá sido a melhor ideia de sempre. Especialmente quando a escolha recaiu sobre um tipo com um apetite pela vida loca maior que o do próprio King.

É este o background para o incrível Bubba Ho-Tep, de Don Coscarelli. Elvis não morreu, nem sequer foi raptado por aliens com gostos dúbios por sapatos de camurça azul. Elvis, o verdadeiro, está a apodrecer, deprimido e amargurado, arrastando a anca arruinada pelos corredores de um lar de terceira idade algures no Texas. Ninguém acredita na sua real identidade, a disfunção eréctil e um suspeito alto assombram a sua virilha. As patilhas, no entanto, continuam intactas.

 

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Assim como o requintado gosto nas armações dos óculos.

Only fools rush in, dizia o homem sábio, mas quando o aborrecimento do dia-a-dia é subitamente perturbado e uma misteriosa identidade começa a vitimar os seus colegas de asilo, não há andarilho que atrapalhe aquela que será porventura a melhor tag team da história do cinema, Elvis Presley e nada mais nada menos que o presidente John Kennedy (Sim, JFK. Escondido e mutado num afro-americano pela CIA para sua protecção, segundo o próprio) da sua missão de desvendar o mistério e salvar as almas indefesas dos habitantes de Shady Rest.

Now, the two key words for tonight - “caution" and "flammable"

Now, the two key words for tonight — “caution” and “flammable”

Complicado de ser catalogado, Bubba Ho-Tep é uma mescla de terror, comédia e puro awesomeness (um Elvis geriátrico e um JKF negro a combaterem uma múmia milenar sugadora de almas, hás-de me dizer onde arranjas melhor que isto) mas a verdaderia magia desta película está na forma como um argumento à partida tão pateta — ou genial, mas isso já depende de cada um — consegue também tocar o mais duro dos corações. O abandono a que muita gente é vetada na terceira idade, a degradação física e mental, o simplesmente aguentar mais um dia enquanto se espera pela morte e os remorsos pelo que se fez ou ficou por fazer — e a cena final que me faz verter uma lágrima cada vez que a revejo — tudo isso é Bubba Ho-Tep.

Isso e a pancadaria claro, ou não estivesse no papel principal de ceifador de múmias o King dos filmes série B, Bruce Campbell (Evil Dead minha gente? Moto-serras acopladas a um braço? Não? Tristeza).