Uma Fralda de Sonho
Tal como Torga sempre disse, Trás-os-Montes é um Reino Maravilhoso. Esta região é rica em paisagens naturais arrebatadoras e também rica em ingredientes únicos e saborosos. Esta é a viagem que proponho para esta semana.
Um dos nossos ex-libris é a Raça Maronesa, gado criado nos pastos do Marão e Alvão que nos dão uma carne tenra e saborosa. Segundo os entendidos, esta raça tem traços do Boi Ibérico, o mesmo que normalmente vemos nas pinturas rupestres. Mas não é de História que vos quero falar, é do sabor. E das coisas boas que podemos encontrar pelos restaurantes e tascas da cidade.
A Fralda de Maronesa é um clássico do petisco da Bila. Um corte menos nobre que o lombo ou o bife, mas, como tudo que é menos nobre, com tempo e a dedicação necessária fica um maravilhoso petisco. E também não é necessário complicar muito. Um pouco de sal, uma boa brasa e temos manjar. Simples e descomplicado, como toda a boa comida deve ser.
Um dos spots que mais me agrada para degustar esta iguaria é o café “O Luisinho” em Arroios. Fica na estrada que vai para a Zona Industrial desde Mateus, logo depois de uma curva conseguimos ver o estacionamento quase sempre cheio. Chegados ao sítio temos uma carta que não está escrita mas que é um clássico: as Tripas à Portuguesa, o Costeletão, a maravilhosa Salada de Tomate e a Fralda de Maronesa. Estes são para mim os pratos de eleição para um bom repasto neste restaurante que visito desde os meus tempos de teenager.
A decoração é simples. Mas também não estamos ali para apreciar o design do espaço. Estamos ali para comer. E para beber um bom vinho que o Sr. Arnaldo por ali serve. Toda a família trabalha no restaurante, o que lhe dá um lado mais “confortável”. Por vezes parece que estamos sentados na sala de jantar desta simpática família. Descemos as escadas e viajamos no tempo. A sala é a mesma há 20 anos. Nada mudou. Nem a comida, nem o menu. E o vinho continua a ser servido em malga. Estas são as coisas que acredito que não podemos perder.
E depois temos a Fralda. O motivo deste aglomerado de palavras que vos escrevo. Meu Deus. Pedaços de céu que na boca se transformam em paraíso. Bem temperada de sal, com a salada de tomate e cebola a acompanhar e poderia bem ser esta a minha última refeição.
O que me deixa mais contente em ser da Bila é poder ter acesso a estas coisas. Toda a autenticidade que se pode encontrar nos pratos e ingredientes da região. E adoro comer este património. Dentada por dentada. Porque isso me faz crescer culturalmente, ao mesmo tempo que tenho orgasmos gastronómicos. Portanto é prazer, história e cultura a cada garfada e a cada copo.
Arrisquem e vão até lá ao final da tarde, para provarem com a vossa própria boca aquilo que vos digo aqui, e vão ver que se vão tornar fieis seguidores desta religião.
