A Almanaque e outras estórias do design português

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Este não é propriamente um artigo de agenda, mas ficarei contente se o leitor o entender como tal e se deslocar até Matosinhos para visitar a exposição “Almanaque — Uma História do Design Português em Revista”, patente até 20 de Dezembro no Mercado Municipal. O subtítulo pode afastar alguns leitores menos interessados na área do design, mas esta não é, de todo, uma exposição exclusivamente para designers. É, sobretudo, uma introdução valiosíssima ao universo editorial português desde o início do século XX, visto pelo prisma do design gráfico. Além da natural curiosidade despertada pelos inúmeros objectos expostos, interessa perceber as histórias por trás de cada um, a forma como o design foi também um canal de atitudes, reflectindo o propósito de cada publicação e a época em que a mesma existiu. Da revista Panorama à K, passando pela Almanaque, essa “lição de design gráfico” de Sebastião Rodrigues, como me disse uma vez um alfarrabista, e que dá nome à exposição, há em Matosinhos uma colecção excepcional que permite reflectir sobre um país em cuja história recente a relação com a imprensa nem sempre foi a mais serena. “Almanaque…” propõe-se não apenas a ser um exercício de memória, mas também um ponto de partida para um estudo do design gráfico português menos fundamentado nas suas figuras heróicas e mais preocupado com um olhar crítico sobre as ideias que movimentaram a actividade.

Quando há uns tempos descobri a revista K, fiquei perplexo, ao mesmo tempo de admiração e por nunca ter tido nenhum contacto com a revista. Os seus artigos, umas vezes profundos e altamente informativos, outras vezes a transbordar de um humor ácido e brilhantemente irónico, não se pareciam a nada que eu conhecesse na Língua Portuguesa. Há na K uma atitude muito corajosa que, na verdade, podemos encontrar em várias outras publicações nacionais. Graficamente, afirmou-se também como uma referência, e tive a sorte de poder ouvir José Bártolo, comissário da exposição, a falar brevemente sobre o modus operandi da composição visual da revista. A K foi o ponto de partida para maravilhosas descobertas (são-no para mim) que tenho feito. Outra destas descobertas foi a revista Periférica, editada mesmo aqui, a partir de Trás-os-Montes para o Mundo, e que passa ao lado do conhecimento da minha geração. Se não for mais nada, esta exposição é pelo menos uma excelente forma de evitar futuras perplexidades tardias como a minha face à K.

Existe um caminho trilhado no passado que conduz a esta cultura de livre opinião e expressão. Entre as várias revistas expostas nesta exposição, encontram-se várias referências para nós aqui no IP4. Sem estas publicações, sem estas figuras e sem estas ideias, certamente não estaríamos aqui. Nem nós, nem 90% das publicações online. Como estudante de design e editor desta webzine, não posso deixar de mais-que-recomendar esta exposição.

Links úteis
Mais sobre a exposição (ESAD): http://www.esad.pt/pt/eventos/almanaque 
“K, parece impossível!” (Isto não é uma tese!): http://teseapuros.wordpress.com/2009/06/24/k-parece-impossivel/
Alguns artigos da Khttp://kapa.blogspot.pt/