Lamego em ano de eleições: da Romaria dos Remédios à morte do pimba

Lamego é nesta altura do ano local de romaria. Muitos ousam chamar-lhe a romaria de Portugal, se é ou não, não sei porque não estive em todas as peregrinações deste país. De ano para ano a quantidade de dias de festa muda. Começam sempre a uma quinta-feira no final do mês de agosto, prolongando-se até dia 9 de setembro. Este ano, como é ano de eleições, as festas começaram dia 22 de agosto, contando-se até ao final dezanove dias de eventos!

As festas e o cartaz em si nunca agradam à maioria, ou porque é fraco, ou porque não se gosta do cantor, ou porque a iluminação deste ano não vale nada, etc etc. Sobre este ano vale a pena dizer que: quando isto sair cá para fora já a Cuca Roseta (que é boa que fado, piada minha) já cantou. Que os Sons do Douro, um grupo formado por pessoas da região de Trás-os-Montes, já fizeram soar os bombos que “não são mais” do que pipas elaboradas para o efeito, e que de certeza valerá a pena ver. Que os grupos pimba tinham de estar presentes e que agora deixaram de ser grupos pimba para serem grupos de espetáculo. Sim, dei conta este verão que o verdadeiro pimba está a morrer.

O Emanuel é imagem de primeira fila ao googlar música pimba,
mas já não se faz o pimba como nesses tempos.

Abro aqui um parágrafo em memória do verdadeiro pimba. Como bons transmontanos, ou durienses, eu e os meus amigos gostamos de festas, vinho tinto e diversão. Se há uma festa da aldeia aqui perto não nos fazemos rogados e rumamos até ela. Uma delas foi em Britiande, uma terra que fica a não mais do que cinco quilómetros de Lamego. Britiande sempre investiu bem nas festas e o pimba nesta aldeia era sempre garantido. Pois bem, no dia em que lá aparecemos, era o dia dos Arkadia atuarem.

Se antes o pimba se fazia bem com três, quatro elementos, os Arkadia eram mais de dez pessoas em palco, entre músicos, bailarinas e cantores. Sim, o mote no início era o pimba, mas logo nos fomos apercebendo que isso não ia ser regra. Começaram a surgir covers de Lady Gaga e Rihanna. Cantaram-se baladas em que ele, no piano, olhava para ela, que vinha lá do alto do palco, pendurada numa espécie de baloiço. Depois vieram as latinadas, as danças do ventre, por aí a fora. Isto há uns anos era impensável. Agora, sinais dos tempos, talvez. A verdade é que desde que foram largando o pimba e entrando nestas variantes, o largo de Britiande foi esvaziando, e não por causa das horas, porque o que não faltava eram emigrantes a querer pousar a mão nas costas da mulher, e talvez ir descendo um bocadinho, e continuarem a dançar mais umas horitas.

O pimba moderno tem Google+, de onde tirámos esta foto do gurpo Arkadia

O pimba moderno tem Google+, de onde tirámos esta foto do gurpo Arkadia

Continuando, volto a frisar que este é um ano de eleições. E que melhor altura para se fazerem obras na cidade. Quem é que ainda não conhece o caso do Pavilhão Multiusos de Lamego? É fácil, basta escreverem no youtube e encontram vídeos bonitos. Resumidamente, milhões de euros gastos na construção de um inútil pavilhão multiusos, numa zona pouco estável, já que no subsolo passa um riozito. O pavilhão é construído contendo por cima umas infraestruturas metálicas pesadíssimas, que começam a fazer ceder as paredes do mesmo, isto com menos de um ano volvido. Infiltrações, desnível do pavilhão, etc etc e o que é que se faz? Retiram-se essas estruturas metálicas do teto e colocam-nas no largo mesmo em frente. O pavilhão fica interdito, repito, com menos de um ano de uso, e agora chegou-se à conclusão de que é melhor voltar a fazer um novo teto. Destrói-se então toda a parte superior do pavilhão, isto tudo, com o material desportivo lá dentro. Boa obra!

Lamego investiu na decoração das avenidas para os Remédios

Lamego investiu na decoração das avenidas para os Remédios

Entretanto as avenidas principais são todas alvo de reconstrução. O trânsito está um caos, a poeira é imensa no ar, ruas interditas, obras, máquinas, poeira, isto numa altura em que Lamego se enche de turistas e pessoas da região para virem propositadamente às festas. É ano de eleições e as coisas têm de ser feitas para o povinho ver. Mas não haveria outra altura? O pessoal de Trás-os-Montes funciona muito assim, à base do “se há obras na rua” então vou votar nele na próxima. Não se trata de campanha, até porque o candidato da oposição ninguém sabe quem é nem ninguém sabe que ideias tem ele para a cidade. O que se pede neste caso é bom senso. E bom senso é ter Lamego a funcionar bem durante dias importantes para a cidade e para o comércio desta.

Comentários

  1. […] Como devem ter imaginado pelo título, estávamos em Lamego a propósito da terceira edição do TRC ZigurFest, o festival de música moderna organizado anualmente pela promotora/netlabel ZigurArtists. Para os dois últimos dias de Agosto, Lamego reservava um cantinho para as várias dezenas de pessoas que, alternando entre o teatro e a rua, foram assistindo aos concertos de bandas como os Memória de Peixe ou o segundo round da luta titânica entre Black Bombaim e La La La Ressonance. E era mesmo um cantinho para “nós”, porque o cenário em Lamego esteve tão preenchido que a evolvente chegava por vezes a atingir contornos surreais. Vejamos, além do festival, acontecia a concentração motard, as preparações de uma das maiores romarias religiosas do país, desfiles de moda, festas da TVI, incêndios a toda a volta e, para o cenário ficar completo, as obras de iniciativa eleitoral que nos sujaram os sapatos. […]