Drogados e prostitutas também são radicais

Das canelas a sangrar à agulha na veia, do cair de cu a levar nele, era uma vez a história de um parque radical que fez putos felizes e agora é um cemitério de vivos, local menosprezado pela comunidade que vê o desporto radical com olhos de vandalismo e má vida.

(via http://skatevilareal.blogspot.pt/)

Bom sítio para mijar e admirar o trabalho do artista.

Retirem os putos da rua, dêem-lhes consolas, mantenham-nos em casa em frente à televisão. Um dia, esses putos, vossos filhos e filhos dos vossos vizinhos, vão ser o escárnio social, perdidos no mundo virtual onde não existe a sensibilidade emocional, onde o respeito pelos mais velhos e a admiração por tais nunca foi fomentada. Este é apenas um descalabro da perspectiva educacional dos dias de hoje.

Em Vila Real, junto às piscinas municipais, algo a que chamam de “Complexo das Piscinas de Codessais”, situado bem na margem esquerda do Rio Corgo,  existiu um parque radical que hoje é um parque fatal. Onde outrora os putos sangravam os joelhos, partiam as tábuas dos skates que compravam nas lojas dos chineses ou andavam de bicicletas random onde colavam autocolantes a dizer BMX (e que faziam delas a melhor bike do mundo), é por estes dias o que chamamos literalmente de “degredo”.

Este parque é uma aventura.

A situação não é de agora e os putos já cresceram, abandonaram o local que foi anteriormente abandonado pelos “grandes” — sim, esses mesmo, que usam fato e gravata e que para eles bicicletas são coisas para dar uma “voltinha” no mês de Agosto e nunca um meio de transporte ou objecto de prática desportiva. Os putos queixaram-se e até criaram um blogue (de onde roubámos as fotos, desculpem), cresceram, cansaram-se de lutar e desistiram. Ainda fizeram uns arranhões à custa do estado de conversação do material do skate park em decadência, tentaram-no reconstruir sozinhos, compraram martelos, pregos, cimento, cola e outros materiais de bricolage, mas o desgaste era maior do que a grande vontade em recuperá-lo. Entretanto, rumaram a outros pontos da cidade para continuar a rolar com os skates, as bikes, os patins e a sua crew radical, mas levaram com gente ignorante e desconhecedora da cidade em que vivem. Bocas como “vocês não sabem que há um park de skate lá em baixo junto às piscinas” rapidamente surgiram de senhoras nas ruas e nas varandas dos apartamentos. Minhas senhoras, eles sabem disso, melhor do que vocês até. Vocês é que não sabem nada e julgar é a única coisa que vocês sabem fazer na vossa visão de educação dos putos.

Os putos cresceram, vieram outros a seguir a eles, os skate parks nasceram improvisados noutros locais da cidade e aquele que era realmente um skate park continua ao abandono. Aparentemente, a autarquia desistiu da ideia de recuperá-lo – aparentemente também nunca a teve – e agora planeiam construir uns courts de ténis para os putos dos skates curtirem uns hollies por lá. Desculpem, para os senhores de gravata irem suar com fitas de aeróbica na cabeça durante o mês de Agosto – apostámos que vão de bicicleta com cestinha até ao complexo.

Uma sopinha cai sempre bem. Não percebemos é o papel das cebolas.

Uma sopinha cai sempre bem. Não percebemos é o papel das cebolas.

Actualmente, a radicalidade é outra. Antigamente, os putos atiravam-se para o chão depois uma manobra mal conseguida. Se não chorassem, riam-se e a adrenalina tirava-lhes qualquer dor que tentasse atacar o corpo. Quem se atira agora para o chão do skate park ou para as instalações adjacentes é quem já não aguenta com o chuto de cavalo e que relativizou um dia que a queda fosse forte demais. A adrenalina a estes não tira a dor. A agulha e um nó são maior alívio de sempre, uma espécie de backflip feito numa colher. Destes, as senhoras das varandas não dizem: “vocês não sabem que tem um skate park lá em baixo junto às piscinas onde podem chutar à vontade?”.

Já as prostitutas, melhores amigas da adrenalina de um toxicodependente, também por lá andam a sacar uns slides e pogos no hands debaixo dos half pipes, “esfarrapar uns joelhos” como se diz na gíria. Isto sim, meus caros,  é actividade radical sem custos para a autarquia. Não há recibos, não há descontos para a segurança social e IVA é a única coisa que não sobe nem desce neste mundo. Quanto aos putos, não se preocupam com eles, deixaram os skates e agora arrumam carros. Se os virem, dêem-lhes umas moedas, pode ser que ainda tenham ideia em recuperar o skate park.

Imagens via: http://skatevilareal.blogspot.pt

Comentários

  1. dasp diz:

    é realmente pena que o poder camarário só sirva — em certos casos — para o ‘manda abaixo’.
    vejamos o exemplo de Barcelona, que é só a capital europeia por excelência, do sk8, e na qual o l’ajuntament faz de tudo para impedir a prática desta mui nobre modalidade.
    bom apontamento da vossa parte. parabéns!

    p.s.: é ‘ollie’, e não ‘hollie’ ;)

  2. EF diz:

    Realmente, nunca concordei com aquilo, que ao contrário do artigo, nunca vi, e passo nessa zona todos os dias, grande utilização desse espaço, fosse por quem fosse. Gostaria, com certeza, de ver esses “putos de skate” por lá… contudo, sempre esteve “pouco ou nada frequentado”… Haveria com certeza melhor utilização para o espaço… cidade com campeões nacionais de natação, e sem uma piscina a condizer ao estatuto… nem ao de atleta federado, isto sim, é Vergonhoso!!!

    1. Antes de mais queria dar os parabéns artigo :)
      Peço imensa desculpa mas detesto pessoas que falam sem saber, e é completamente ridiculo dizer que o skatepark de vila real, ou como lhe quiserem chamar é pouco ou nada frequentado, como é óbvio isso é verdade mas não por não haverem “putos do skate”, mas sim por não haverem condiçoes. Antes de falar agradecia que se informasse, porque já varias gerações de “putos do skate” tentaram que o park fosse remodelado, mas é o que vemos…
      https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=126218854193847&id=142822262425504
      http://www.facebook.com/posersskateboardingVR
      http://www.youtube.com/channel/UC0KObXw2YCS2bPo-6_gbNUg
      http://www.youtube.com/channel/UCOOtk5WiXU9mMNaMyf7LKAA?feature=watch
      http://www.youtube.com/user/serodionuno
      http://www.youtube.com/user/CrackSkateboarding?feature=watch

  3. João Pereira diz:

    À parte da notícia, artigo extremamente mal escrito. Nota-se mesmo que é de um “wanna be” que tem a mania que escreve umas linhas de jeito mas que usa expressões e conceitos tão vulgares que torna a escrita do artigo ridícula, penosa e incompetente.

    1. João Rebelo diz:

      Wanna be” é sem dúvida um conceito muito original. Uns querem escrever umas linhas, outros também. É uma crítica um pouco vulgar esta.