Caloirada aos Montes 26 | 27, O Cio

Na primeira noite enquanto ia para casa passei, no caminho, por um casal cujo rapaz dizia Mas nada mudou o que eu sinto!, mais à frente um outro explicava à namorada que aquilo não significou nada. Eram cinco da manhã, a hora da novela. A hora de resolver os dramas do resto da noite, de encontrar aquela pessoa que só foi naquele dia, controlar as expectativas frustradas daqueles que queríamos que fossem e não apareceram. É indissociável. Há cio nas festas académicas.

Não me entendam mal, é saudável. Numa versão BBC Vida Académica seria ainda mais natural, ouvindo o narrador da SIC a reflectir sobre os comportamentos decorativos da fêmea, a descrever os nossos modelos de acasalamento e o mistério ainda não resolvido dos homens com decote.

Falando de coisas mais concretas, passemos ao dia 26. Abriram os Capitão Mocho para um público quase indiferente que esperava os concertos seguintes. Foram a banda sonora para a tenda ir enchendo, aos poucos, aquela que viria a ser a noite mais concorrida da semana.

Não é notícia para ninguém que os Blasted Mechanism sabem dar um bom concerto, são muitas as vezes que já os recebemos e a linha mantém-se: muito ênfase visual, máscaras, leds, danças macabras e a música alucinante que se espalha em ondas desde a linha da frente. Houve quem sentisse saudades de Karkov como vocalista e ouvimos críticas às mudanças feitas em alguns temas mais icónicos. Apesar de tudo, e por mais que sejam raro quem ainda ouça os álbuns, a actuação resulta e a teatralidade da banda visita os nossos lados mais primitivos desde 95, com ritmos fogosos, eléctricos e étnicos.

Seguiram-se Freshkitos, a dupla de djs do Porto que, a dias de celebrar o seu 10º aniversário, trouxe a Vila Real uma electrónica afiada e perspicaz. O set conquistou fãs e leigos em diferentes medidas, emprestando dinâmica e novidade às horas tardias na tenda da Caloirada.

O baile é o momento americano da recepção ao caloiro, o momento do vestido e do par e de descobrir que a maior parte dos caloiros não está muito para aí virado. Diziam-me, no início da semana, que o dia do baile do caloiro era um dia de descanso disfarçado, eu mantive a minha posição de que, chegado domingo, ia estar no baile, o par de credencial ao pescoço.

Isso não aconteceu e há várias razões válidas: 1 O meu par IP4 estava de folga no sábado e, portanto, não só foi apanhado no cio como estava com uma ressaca monumental no domingo; 2 A minha stamina para uma maratona de seis noites já não é o que era; 3 Estava frio e o meu sofá anormalmente confortável; 4 Ainda não tinha vestido e muito menos sapatos; 5 Era a Minister, a discoteca com alcatifa.

Termos ido podia, contudo, ter-nos elucidado mais acerca do cio académico — era uma oportunidade única de observação do período fértil dos caloiros. Ficámos pelo desenrolar emocional (e emocionante) do resto das noites, que, como fomos descobrindo, bem podia ser uma adaptação da Casa dos Segredos, versão tenda liberal. O equídeo, esse ainda o vimos no sábado, mas desconfio que fosse a cabeça num corpo diferente, já tinha até o maxilar meio arrancado, provavelmente de um encontro com uma égua entusiasta.