Caloirada aos Montes 28 | 29, Para o ano há mais

No IP4 não temos lápis azul e gostamos de pensar as coisas como elas são, sobretudo chamá-las pelos nomes. Por isso quando falamos do concerto da Rosinha não vamos fazer de conta que ela não disse pilas várias vezes; na verdade o encanto está todo nas pilas e na liberdade expressiva da gramática brejeira. Mas voltemos ao início.

Há várias coisas que distinguem a Caloirada aos Montes de outras recepções ao caloiro:
a) a UTAD vive de um paradoxo estranho de universidade grande e espírito familiar, alimentado pelas dimensões da cidade e pelo facto de os estudantes serem aqui uma fatia tão grande da população. É como o Portugal dos Pequeninos, Vila Real dos Estudantes.
b) O frio; que este ano foi até aos 5º e ainda assim há os de t-shirt e as de calções-cueca a saltar como no apocalipse, o frio e a coragem portanto. c) A imagem gráfica, este ano, que piscou o olho a eventos de peso e subiu o standard daquilo que pode ser feito para eventos académicos. d) A parafernália de bichos que por lá se viu, desde o burro de peluche, a tão falada máscara de cavalo, um sósia cinzento do piruças de Paredes de Coura e um boneco vaquinha.

Na noite de 28 entrámos a meio do concerto de Valete, com quase duas horas e um mar de fãs à frente a cantarem as letras em conjunto. Sabíamos pouco sobre ele, mas na nossa conversa depois do concerto revelou-se um dos entrevistados mais cativantes, desenvolvendo pausadamente cada assunto que lhe propusemos. Foi nessa noite que o backstage esteve mais cheio de fãs e seguidores a pedir autógrafos e fotografias, e era óbvio perceber que, de todos os artistas esta semana, foi o mais acarinhado.

Seguiram-se Karetus, dupla de djs drum n bass e substep que, entre um hit e outro, mergulharam numa vertente underground que faz falta por cá, o set deixou a tenda em alta, mas isso foi pobremente aproveitado pela passagem para o Dj Keey, que quebrou  a tensão criada pelo drum n bass com a bela música brasileira e o lugar comum do rock-vai-com-todas do Smells like Teen Spirit.

Nesta noite, voltemos à Rosinha, cuja magia reside na postura à prova de bala e totalmente não-censurável. O vestido dela desafiava qualquer corrente de ar, acordeão na mão e bailarinas semi-nuas dos dois lados, respostas sempre prontas e gargalhadas contagiantes: ela veio para destronar o Quim nas festas académicas e não é para brincadeiras.

Quando se fala nela ficam muitas perguntas, os óculos de sol serão uma homenagem ao Pedro Abrunhosa? Terá olhos de huskey, um de cada cor? Se calhar tem inspirações a meio da noite para escrever estas letras, é fácil imaginar um cenário da Rosinha a acordar a meio da noite porque tem uma ideia genial, vamos chamar à minha tour Panela Tour 2013. Será filha ilegítima do Emanuel nos seus tempos do pimba-pimba? Com se faz o casting para estas bailarinas?

Seguiu-se o anúncio de Enfermagem como vencedores da Latada deste ano e a celebração da AAUTAD de mais uma festa académica que correu pelo melhor. É nesses momentos, A UTAD é nossa e há-de ser, que quem não pertence percebe esse espírito familiar e essa união fanática do academismo em Vila Real.

A noite terminou pelo duo Puta da Loucura, com alguns fãs e vários críticos, que entraram com sabres de luz, capacete de storm trooper e Darth Vader. Trouxeram no bolso todos os hits, com mais ou menos pó, desde os Xutos à electrónica fácil do momento, So wake me up when it’s all over. O volume estava no máximo e a despedida da Caloirada durou até de manhã.

Depois disto não há muito a concluir. A Caloirada funciona como um vórtice de seis dias, de onde normalmente saem aquelas histórias para contar aos filhos daqui a 40 anos quando eles estiverem a ir para a Universidade; aliás, são os dias que nos fazem ter medo de deixar os nossos filhos irem para a Universidade. É redutor pensar um evento destes pelos concertos, mas não vamos fazer dele o acontecimento do ano porque, salvo possivelmente para uma minoria fanática, não é. A boa notícia é que também não é suposto ser. É um rito de passagem e faz parte do calendário; agora, uma semana depois, o assunto já morreu, para o ano há mais e serão outros caloiros a experimentar o poder de dançar em cima do balcão com cartazes promocionais.