Entrevista | Os Farias

Se ganhassem o Euromilhões, Os Farias iam filmar o próximo vídeo a Miami (spoiler: ia incluir lamborghinis em arco-íris). Continuámos a conversa muito depois da entrevista ficar fechada, sobre a comédia, sobre a cultura, sobre a vida e os entretantos, eles contaram-me histórias e eu por várias vezes senti-me num espectáculo de stand-up merecedor de palco. Já dizem que rir é o melhor remédio, e para um povo naturalmente melancólico, num cenário cultural em que fazer rir é talento subestimado, há algo a aprender com a descontracção melodiosa d’Os Farias.

Bem, para quem não vos conhece, como nasceram Os Farias?

Pedro Osório: Os Farias nasceram das mães.
Ricardo Patrício: Nós conhecemo-nos, fizemos um grupo de amigos e, pronto, pensávamos que tinhamos graça. Começámos a gravar umas brincadeiras, nada com guiões, coisas espontâneas e videos espontâneos engraçados.
Pedro: Depois ficaram mais organizados, começámos a escrever a história. Por exemplo, Os Seis Pães e meia broa já mostra um bocado desse profissionalismo.
Ricardo: Nós próprios também começámos a ver onde falhámos e a querer fazer as coisas com mais a sério, mesmo sendo vídeos amadores e sem ajuda financeira.
Pedro: Fazemos tudo desde o início, escrever o guião, ir buscar uma música, depois arranjar uma melodia, melodia escrever a letra da música, depois escrever o guião, depois fazer o storyboard, com desenhos, imagens, planos…
Ricardo: Depois filmar…
Pedro: Filmar, ir a campo, trazer as pessoas, depois editar, exportar e ter likes no facebook. E ficar à espera!

 

E de onde vem o nome, Os Farias?

Pedro: Primeiro que tudo, Farias é um nome e é um verbo. Logo aí tem duas utilidades! A história é que o Simão conhecia um homenzinho, que era um cromo, que era o Faria. O Faria, por exemplo, era aquele que tem um Mercedes e quando vem da Suiça, manda vir o mercedes de reboque e vem ele de autocarro, ou não fuma e compra quatro maços só para dar aos amigos. Basicamente o Faria é um cromo porreio.
Ricardo: E nós somos uns cromos porreiros. Nós agora até queremos ser Os Amigos Verdadeiros! Porque nós chegamos ao pé das pessoas e somos amigos, depois a partir daí… Nós entramos sempre na descontra com as pessoas, quem entrar na onda está na onda connosco, as pessoas que estão mais mal da vida… bem, que vejam alguns vídeos para ver se se começam a rir.
Pedro: Nós dizemos é que os farias não somos nós, são os que não fazem. Nós fazemos, tu farias.
Ricardo: Em Lisboa encontrámos um rapaz que nos perguntou, mas vocês não são Os Fatias? Conheço os vossos vídeos, vocês não são Os Fatias?
Pedro: Foi no Bairro Alto.
Ricardo: Eu disse-lhe, por acaso dividimos um bocado as parcelas, mas somos Os Farias. E ele, ah eu conheço e não sei quê. Opa, não somos desconhecidos mas não temos aquela…

Speaky TV com o Fernando Alvim, 5 para a meia noite… E este Verão andaram a promover a Médis. Falem-nos um bocadinho da Médis Summer Tour.

Ricardo: Não exactamente como Os Farias como mas como grupo de animação. Fizemos dois trabalhos, fomos requisitados em Abril para fazermos um trabalho para a Médis na corrida da mulher, em Lisboa. O nosso trabalho consistia em chegarmos lá e ser animadores. Fomos 4 trabalhar, e deram-nos umas t-shirts amarelas fluorescentes e calções de lycra justinhos.
Pedro: Nós nem sabíamos o que é que um animador fazia, porque eles achavam que nós éramos de teatro. Viram um vídeo nosso no teatro a dançar e contrataram-nos dessa maneira.
Ricardo: Até foi engraçado porque nós chegámos lá tipo às 7 da manhã, cheios de sono não é, vestimos a lycra e o chefe, que estava a organizar a corrida disse: então façam lá umas brincadeiras. Quando fomos para a corrida, eram cerca de 15000 mulheres, e nós os quatro. Pronto, opa, aquilo foi desde apalpanços, desde brincadeiras, fotografias connosco…
Pedro: Isto durante o aquecimento. Depois fomos para o final da corrida. Levaram-nos de carro, para o final, as mulheres iam a correr e por onde passávamos as mulheres faziam grande algazarra, e o gajo, o patrão, ficou a achar, estes gajos… Quem é que eles são para andarem a fazer isto? Depois invadimos o palco também.
Ricardo: Estava lá uma escola de fitness, e nós metemo-nos no meio do palco a brincar atrás deles, até que eles saíram e puseram música. Nós fizemos uma dancinha, até temos isso gravado, e as mulheres a imitar-nos com a dancinha, tudo a aprender a dançar e tal. Fizemos uma animação melhor do que aquilo que eles esperavam. Por isso convidaram-nos para a Médis Summer Tour.
Pedro: Que consistia numa viagem de 35 dias, por mais de 50 praias, desde Esposende até Vila Real de Santo António. A dar maçãs, relógios solares, a pôr guardassóis e a alertar as pessoas para o perigo do sol. Não andávamos a vender seguros, era só a promover a marca. Tanto que ainda aparecemos no Correio da Manhã.
Ricardo: E filmaram-nos para o Milllenium BCP, para a televisão. Estivemos em Lisboa e a Summer Tour apareceu na TVGuia.
Pedro: Fomos nós os 3, eu ele e o Rui. Que neste momento somos Os Farias.
Ricardo: No norte, começámos a meio de Julho, as praias não eram tão cheias, mas depois da praia de Sesimbra as pessoas rodeavam-nos. É assim, no início íamos à toalha abordar as pessoas, imagina, tínhamos de ir buscar a interacção. Quando chegámos ao Algarve, as pessoas rodeavam-nos, nós fazíamos dança, ao sol, com 37 graus, com toda a gente em cima de nós.
Pedro: De costas uns para os outros, tipo Counter Strike.
Ricardo: Depois começámos a fazer uma roda na areia e dizíamos que ninguém entrava ali. Nós tínhamos ali as maçãs, os relógios, explicávamos tudo para toda a gente, fomos ganhando também maturidade no trabalho, fomos evoluindo. E tínhamos uma interacção mais próxima, porque não estávamos a vender nada, e íamos pela empatia.

 

Voltando ao interior, e ainda por cima no Inverno. Acham que o público de Vila Real tem sentido de humor?

Pedro: Temos todos humor. Uns mais negro, outros mais claro. Outros com um sentido…
Ricardo: A comédia nunca é perfeita para ninguém.
Pedro: Toda a gente tem comédia, toda a gente se ri. Nem que seja para dentro! Toda a gente tem piada.
Ricardo: Só que no dia-a-dia há barreiras. Nós dizemos que ultrapassámos um bocadinho a nossa barreira da vergonha porque… É assim, eu sou envergonhado, e ele também é envergonhado, só que…

[Rio-me]

Pedro: Ela pensa que não, estás a ver.
Ricardo: Pois, tu pensas que não, porque sentes que já estamos à vontade.
Pedro: Se calhar o nosso nervosismo é que leva a que penses isso.
Ricardo: A nossa expressão é  espontânea. Nós somos tão envergonhados que queremos perder a vergonha fazendo brincadeira. É… Tu já me conheces, e sabes que eu sou muito de brincar. E aquilo que mais gostamos de fazer e aquilo que mais nos completa é fazer rir as pessoas, nem que seja só com nós mesmos.

 

Qual é o feedback que têm recebido?

Pedro: Lindos, maravilhosos… E acima de tudo são modestos!
Ricardo: E humildes, muito humildes!
Pedro: Dêem-lhes dinheiro! Dêem-lhes condições! Levem-nos para a RTP! Não, para a RTP não… para a SIC, para a TVI!
Ricardo: O público mais difícil de conquistar são os nosso pais.
Pedro: Em termos financeiros eles não se riem muito, não.
Ricardo: Mas mesmo no nosso seio familiar temos tido uma evolução e têm visto que temos feito coisas mais profissionais. Isto de fazer vídeos a brincar pode ser muito na brincadeira, mas leva muito trabalho. Às vezes para fazer um vídeo… Precisamos de várias imagens de sítios diferentes, com muitas pessoas, percebes, para tentar realizar uma ideia queres fazer aqueles pontinhos todos, e quanto mais gente tu tens…
Pedro: Muitas cabeças…
Ricardo: Muitas cabeças que precisam de estar todas no mesmo sítio à mesma hora. E sabes que isso é um bocado complicado. O barco tem de andar para a frente, temos de remar e nós, opa, nós sempre quisemos fazer coisas novas e inovadoras, depois de lançar um vídeo já estamos a pensar na próxima ideia e andar… andar para a frente. Temos ajudas de pessoal que são djs, que sabem tocar guitarra…
Pedro: Juntar o útero ao agradável. Depois, de cada vez que escrevemos alguma coisa é a pensar no vídeo também.
Ricardo: É uma projecção. Às vezes temos ideias tão demasiado grandes, que chegamos a meio da grandiosidade e vemos, pronto, nós não conseguimos fazer isto assim. Pronto, vamos ter calma.

O que podemos esperar a seguir? O que é que está planeado para o futuro d’Os Farias?

Pedro: Vamos então começar a dar shows em bares, tipo televisivos mesmo, temos também a ideia de filmá-los. Englobam desde música, a dança e talk show, com viola e a cantar também, a entrevistar pessoas que estejam lá, músicas apropriadas para o bar, imagina cantar o que está a acontecer.
Ricardo: Um stand-up controlado, pre-meditado. Nós também queremos levar as coisas organizadas para lá, fazer umas brincadeiras e ter interacção com o público.
Pedro: Fazer algo de inovador para o bar, também. Vamos começar com outras coisas também, com apanhados, vamos interagir com as pessoas na rua. E depois passar isso no bar, e de certa maneira fazer com que essas pessoas que foram apanhadas vão assistir ao show. Proporcionar ao bar que tenha mais vendas, claro, e que se riam também connosco.
Ricardo: É aquilo que queremos fazer, é fazer rir.

A actuação de estreia d’Os Farias está marcada para dia 31 de Outubro, no JB Lounge & Bar. Há mais boas notícias e o grupo vai também começar a trabalhar em parceria com a UTAD tv.
Os Farias no facebook: https://www.facebook.com/OsFarias

Comentários

  1. Luis P. diz:

    Este blog acabou de perder toda a credibilidade.