Sugestão do mês | The Act of Killing
Olá cambada, prontos para mais cinema documental? Daquele que nos terraplana as emoções à bruta e sem aviso prévio ao ponto de nos deixar envergonhados de sermos um dos 7 mil milhões de constituintes do que conjuntamente chamamos de espécie humana?
Óptimo.
Vamos lá então.
Imaginem que um grupo de avozinhos reformados das SS são convidados para re-encenar, no seu estilo cinematográfico favorito, algumas das cenas de tortura e assassinato cometidas ao longo dos seus anos de actividade. Imaginem um Klaus Barbie, o Carrasco de Lyon, a representar a fatal sessão de tortura a Jean Moulin ao bom estilo do expressionismo alemão. Ou Erich Priebke a orientar o massacre das Fossas Ardeatinas num misto de western spaghetti e sapateado.
The Act of Killing é um pouco isto. Anwar Congo, a personagem principal da trama, é um simpático e bailante velhinho considerado um herói de guerra na Indonésia, que nos anos 60 terá sido um proeminente gangster/fã de cinema americano que ajudou a exterminar cerca de um milhão de comunistas e chineses durante a ascensão do governo de Suharto. É também creditado pela “invenção” do método mais humano e limpo de ceifar vidas humanas, asfixia por arame — parecendo que não o sangue depois seca e deixa manchas e é chato, e a revolução não pode gastar os fundos todos em detergentes limpa-chão.
50 anos passados é então, juntamente com uns compinchas da altura, convidado por Joshua Oppenheimer a encenarem no seu estilo hollywoodesco favorito alguns desses momentos. Enquanto Anwar se revela um grande fã de filmes noir, Marlon Brando e quejandos, já Herman Koto prefere soltar a drag queen que há em si, injectando uma aura de fabulousness e humor surreal numa película que não deixa de ser sobre o lado mais negro da nossa espécie.
Mas apesar de tudo é a calma, orgulho, pragmatismo e amoralidade com que fazem esta retrospectiva a parte mais atordoante e chocante do filme. Só lá para o final é que Anwar parece topar que “matar pessoas que não queriam morrer” se calhar não é boa onda. A visualização de Act of Killing é claramente uma experiência angustiante e stressante, não recomendada aos queridos leitores mais impressionáveis. Mantendo a analogia inicial com o Holocausto Nazi, é quase como uma tour guide a um campo de extermínio.
Só que estas pessoas ainda estão no poder.