[17-04-2015] Decorre actualmente uma campanha online de angariação de fundos, através deste link: http://igg.me/at/save-alberto/x

O artigo do Baca Belha

tumblr_mqvsd53lkP1r2g4jqo1_1280

Desde que começámos a trabalhar no IP4, no Verão de 2013, que o artigo sobre o Baca Belha tem andado na nossa lista de textos a escrever. Nunca o chegámos a fazer porque achámos sempre que tudo o que tínhamos a dizer pouco ou nada trazia de novo à história desta casa. Quem frequenta o Baca não precisa de ler artigos sobre o que lá passa. Escrever sobre qualquer uma das noites lá vividas parece até uma blasfémia, como se quebrássemos um juramento implícito, suspenso no ar, de que ali se vive e convive sob a aura de um cliché que, no entanto, faz todo o sentido convocar: muito do que se passa no Baca Belha, fica no Baca Belha.

Quem não conhece o Baca também não precisa de nós para lho apresentarmos. Um artigo da Vice fê-lo antes, pelo que nos poupamos à redundância. Há ainda os relatos orais, uma história quasi-mitológica constituída de episódios individuais que se acumulam no imaginário colectivo da clientela que é, ao mesmo tempo, a garantia da memória do lugar — mesmo que a memória não seja sempre a ferramenta mais confiável depois de uma noitada na Vila Velha. Por fim, quem não conhece o Baca tem aquilo a que, na gíria técnica, se chama de “bom remédio”, que é ir ao Baca Belha.

Para quem, ainda assim, não sabe o que é o Baca Belha, trataremos de o resumir como “uma tasca de Vila Real”. Mais que isso, é um sítio carregado de significado, situado na zona velha da cidade, onde se mantém aberto há mais de cem anos. Ou mantinha, porque em dezembro do ano passado, teve de fechar as portas para uma remodelação forçada. Esta foi uma das notícias mais tristes que se ouviu recentemente em Vila Real, e com razões para isso. O Baca Belha era um local de reunião, não só de diferentes pessoas mas inclusive de gerações radicalmente distantes.

Lugar camaleónico, pacato durante o dia, com ar de bar texano num filme do Sergio Leone, revelava-se à noite como uma nova aragem nas rotinas dos mais jovens que, como eu, procuravam uma alternativa à mais que saturada procissão dos bares e discotecas. Não me esqueço da minha surpresa quando, precisamente no Verão de 2013, descobri o Baca atolado de gente todas as noites, sem falta. Era algo diferente de tudo o que tinha visto nesta cidade, as pessoas conviviam cá fora, tribos urbanas para todos os gostos, uma simpatia generalizada. Nesse mesmo Verão, muito do que se fez para pôr o IP4 em pé foi discutido lá, acompanhado pelas taças de tinto ou branco, conforme o estado de espírito.

O Baca Belha passa agora dificuldades. As remodelações são caras e com o negócio fechado, não há fonte de rendimento. Numa das últimas vezes que estive em Vila Real, percebi que alguns dos meus amigos passavam lá os seus dias a ajudar o Alberto, actual dono do Baca, a “arrumar a casa”. Só um sítio especial consegue levar os seus clientes a fazer gestos destes. Gestos como a actual angariação de fundos e iniciativas para ajudar a pôr a tasca preferida de todos novamente em pé. A forma como as pessoas se reúnem para reavivar um sítio destes garante-nos que mais do que um negócio, o Baca é património. Adiámos o artigo sobre o Baca Belha porque pouco ou nada trazia de novo à história desta casa, mas parece-me que esta é uma boa forma de tentar devolver alguma da alegria que de lá trouxemos tantas vezes. Não o fazemos por caridade, mas por carinho. São coisas completamente diferentes.