A magia da Eurovisão 2014

Este ano Portugal volta à competição no Festival da Eurovisão e eu faço parte do pequeno grupo de pessoas que recebeu a notícia com um entusiasmo desproporcionado. Como tal, estive a ver todos os vídeos dos concorrentes deste ano e estou aqui para vos convidar a juntarem-se mim na viagem mágica e muito educativa em termos de geografia europeia que é o visionamento da Eurovisão!

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Depois da música da Roménia do ano passado, achei que este programa não me ia conseguir espantar mais. “Quem vê um vampiro a cantar em falsete, já viu tudo”, pensei eu. Mas felizmente estava enganada! Entre uma cantora israelita que maneja uma espada enquanto canta o refrão “I’m skinning you off”, uma música francesa sobre bigodes, duas gémeas idênticas russas e um travesti barbudo, é dificil decidir qual o número musical mais aleatório deste ano. Ainda assim, aqui estão as minhas escolhas daquilo que não vão querer perder:

Letónia
Título Oficial: Cake to Bake
Título alternativo: Letões Ganzados

Cake to Bake é uma música desconcertante. É de mim ou ele está a cantar sobre fumar cenas, ficar com fome e querer fazer um bolo?
A princípio não queria acreditar que há mesmo gente com rastas a cantar sobre ganza na Eurovisão, e achei que podia estar enganada, que a música era na verdade sobre igualdade de género, ou in­­versão dos papeis domésticos, os homens na cozinha a fazer bolo e tal… Mas depois há uma altura em que ele diz que falou com um unicórnio e não consigo justificar isso.
Surpreendentemente, Cake to Bake não é a única música sobre bolo deste ano. O bielorusso Teo traz-nos Cheesecake.

Bielorússia
Título Oficial: Cheesecake
Título alternativo: Ela tem um cheesecake, mas não sei bem onde.

Aqui, o bolo é uma metáfora para alguma parte da anatomia feminina. Infelizmente não é muito claro para mim que parte do corpo da mulher o cheesecake é, nem porque é que o Teo já não quer uma fatia. A letra é um bocado confusa mas no refrão ele canta sobre o google-maps e isso tem de ser inédito.

Deixando o bolo de parte, provavelmente a concorrente que vai dar mais que falar este ano é Conchita Wurst, da Áustria. Porque é uma drag queen. Com barba.

Áustria
Título oficial: Rise like a Phoenix
Título alternativo: O doce som da normatividade de género a estilhaçar-se.

Quero muito acreditar que a performance de Wurst tem chances de ganhar. A música é um clássico-eurovisão, ela consegue ter uma barba melhor que a de alguns concorrentes masculinos (sim Teo, estou a falar de ti) e, ao mesmo tempo, um vestido mais elegante que o de algumas cantoras (O que é que a concorrente da Itália tem vestido? Uma armadura com cortinas de talho?).

Custa-me um bocado perceber a surpresa, choque e moções contra a participação de Wurst. A Eurovisão é o festival anual do kitch e do glitter! Este é o tipo de competição onde já houve uma drag queen ucraniana, vestida em como uma bola de discoteca, a cantar uma música com palavras inventadas — e ficou em segundo lugar!

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É claro que a grande diferença, e a razão pela qual eu gosto muito de Conchita Wurst, é que ela não uma personagem cómica, nem um número de humor. Ela é uma diva: Há vento a agitar-lhe o cabelo, há pétalas de rosas numa banheira. É impossível não a admirar por isso e ficar feliz pela Eurovisão estar a dar um passo em frente e a aceitar uma maior diversidade de concorrentes.

Também com uma mensagem de tolerância, mas num registo completamente diferente, são os meus concorrentes favoritos deste ano: os islandeses de fato de treino!

Islândia
Título oficial: No Prejudice
Título alternativo: Se os power rangers fossem de Reykjavík

Esta música deixa-me tão bem disposta, é definitivamente a banda mais divertida deste ano. Há um dos homens do coro que eu adoro e não consigo parar de rir sempre que ele aparece no ecrã.

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É genial.

 

Por fim, AS PREVISÕES:

A música que espero bem que não ganhe.
É possível que este vídeo da Polónia tenha sido realizado por aquele cronista do Expresso que escreveu sobre as polacas serem galdérias.

Li algures que era suposto ser uma sátira, mas não estou bem a ver como.

A música que é capaz de ganhar, acho.
A minha estratégia para perceber se uma música tem possibilidades de ganhar a Eurovisão é ouvi-la e perguntar a mim própria: “Consigo imaginar isto a tocar em discotecas gay da Europa de Leste durante o próximo ano?” Segundo este teste, a Roménia seria a vencedora. Não só a música é super discotecável mas a performance inclui um piano iluminadado por neons e hologramas dos própios cantores.

Contudo, admito que tanto a Suécia como a Arménia são bons candidatos e, se apostasse dinheiro nisto (e não digo que devam), era num destes três países.

A música que eu secretamente gostava que ganhasse.
A da Suzy, é claro! Não acho que haja alguma razão lógica para alguém votar na participação portuguesa mas, no que toca à Eurovisão, tenho um orgulho nacionalista um bocado cego (e surdo) que acalenta sempre um restinho de esperança em que Portugal ganhe.

Vejam só o video, as raparigas do coro estão tão entusiasmadas por estar ali! Têm todos um ar tão feliz! Estamos de volta à Eurovisão! E temos body-painting!

É possivel que os tambores gigantes a serem tocados por homens de leggings de cabedal joguem a nosso favor. Nunca se sabe. Sempre é melhor que cheesecake.

A primeira semi-final (em que Portugal participa) é no dia 6 de Maio, a segunda é dia 8 e a grande final será dia 10. Apontem no calendário!