Era São Martinho em Penafiel e eu fui

Se tivesse feito a catequese, provavelmente saberia dizer porque é que S. Martinho é o santo padroeiro da minha cidade, Penafiel. Mas como não fiz, tanto não sou comungada como não posso começar este artigo com uma história interessante sobre como o santo veio um dia a Penafiel, comeu bolo de chocolate na Nova Doce e admirou os nossos caixotes de lixo específicos para chicletes, únicos no país. Se calhar até fez um milagre, e foi assim que a Bracalândia apareceu do nada, na encosta do Vale de Sousa. Porque se há verão de S.Martinho, também deve haver um parque de diversões onde aproveitar os dias de sol, não é?

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O S.Martinho gosta de andar no Dragão, o S. Jorge nem tanto.

De qualquer forma, no domingo passado estávamos todos em casa e decidimos fazer algo que não aventurávamos há anos: ir à feira de S.Martinho.

Isto pode parecer um plano simples de tarde de domingo bem passada em família, mas para nós é uma missão que envolve planeamento estratégico. Se houve uma altura em que o ser humano desenvolveu aptidões para se conseguir movimentar em grandes concentrações de pessoas, essa capacidade evolutiva não assolou o meu agregado familiar. Enfiarmo-nos numa multidão é complicado por várias razões:

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Pai:
É um ex-funcionário da Câmara Municipal, e toda a gente o conhece. É possível que, durante o nosso pequeno percurso, vá ter de parar cerca de 5 vezes para falar com pessoas. É muito provável que o percamos, e é ainda mais provável que eu vá confundir outros homens com ele. Isto era giro quando eu era pequena, mas em adulta é estranho. Ninguém quer uma desconhecida a agarrar-nos pelo ombro a resmungar “PAI! ‘PERA AÍ! PRECISO DE DINHEIRO!”.

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Mãe:
Estar numa multidão despoleta-lhe algum instinto de sobrevivência e a única prioridade é SAIR DALI. Fica muito concentrada em desviar-se das pessoas, andar o mais rápido possível e tentar ocupar as partes da rua que estão mais vazias. Faz-nos andar em zigzag como loucos, é como andar em linha recta mas muito mais devagar.

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Eu:
Sou uma versão crescida das crianças que se perdem no supermercado: concentro-me a olhar para qualquer coisa e quando dou por mim não sei onde está ninguém (e todos os homens se parecem com o meu pai de costas.) Não sou boa a encontrar pessoas na multidão. O que é estranho, porque que seria de esperar que depois de tantos anos com livros de Onde está o Wally teria adquirido algum tipo de treino. A grande diferença é que nos livros ninguém se mexe, o Wally está ali quietinho à espera de ser encontrado, não anda aos zigzags pela multidão como uma lebre em dia de caça ou a minha mãe.

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Irmã:
Na verdade não tenho nada a apontar, a minha irmã é a pessoa mais adaptada da família. Se calhar é porque vive em Lisboa.

E assim, num esforço de equipa e de mãos dadas como nos simulacros de incêndio, andámos cerca de 3 km pelo meio das pessoas, na feira de S.Martinho. Nem sequer é um terço do comprimento da feira, mas dêem-nos um desconto. Estava calor, os pregões misturavam-se uns com os outros e eram acompanhados pelo barulhinho irritante daqueles cães de pilha que dão mortais para trás. Fui contra algomerados de balões por duas vezes, e vi mais gente na rua em dois minutos do que nos dois meses que estou a viver aqui. Multidão à parte, a feira não parecia muito diferente das outras todas, mas vi 4 barracas que me chamaram à atenção:

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1 O Stand Sexista
Havia pelo menos duas tendas a vender exclusivamente aquilo que apelido de “tshirt-piadola”. Uma delas era gigante, já nem era uma banca da feira, era tipo um quiosque portátil. Não fazia ideia que isto era tão rentável! Há realmente homens a usar roupa que diz “faz-me um bico.”? É que eu nunca os vi! Um dos pullovers dizia “Não fiques triste eu também gosto de mamas pequenas” e deu-me uma raiva incendiária. Há uns meses um amigo disse-me que não via razão para o feminismo ainda existir. Considerei comprar-lhe uma destas para o Natal, só para provar o meu ponto de vista. (E não, não havia uma versão daquela frase para mulheres, a dizer “Não fiques triste, eu também gosto de pénis pequeno”. Na verdade, a tshirts femininas também eram ofensivas para as mulheres. Toda a barraca era um carrocel mágico de misoginia.)

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2 Contrafacção Fraquinha
Imaginem que vão vender imitações para a feira. Podem imprimir o nome de qualquer marca nas vossas calças de fato de treino, o céu é o limite. O que é que escolhem? Adidas? Nike? Bem, o senhor desta barraca escolheu a Bershka. Comprei umas e nem enquanto a minha mãe pagava, o homem parou de apregoar BRESKA! a altos berros. Vi a versão real daquela meme do Fry, enquanto a minha mãe agitava uma nota de cinco euros e tentava que o senhor não lhe gritasse mais aos ouvidos.

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3 Rolha Humana
Lá porque podemos fazer muitas coisas em cortiça, não quer dizer que tenhamos que as fazer.
Botas de cano alto em cortiça é um não.

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4 Os Gorros Fabulosos
Havia uma barraca cheia de gorros tricotados à mão com caras de desenhos animados. Eram imensos, variados e muito perfeitinhos (detesto usar este adjectivo, porque é tão nhónhónhó e faz-me parecer uma velhinha a falar do netinho recém-nascido). Quero demonstrar aqui o meu maior respeito pela pessoa que os fez. Se houvesse tamanhos de adulto tinha comprado o do Doraemon. Ia ficar super bem com as minhas calças novas da Breska.