Sou a Laura e também fui a Vila Real

Há alguns meses atrás, quando ainda fazia frio e ameaçava chover, no mês de Março, o meu namorado convidou-me para visitar a sua casa, Vila Real. Muito pouco sabia sobre aquela terra guardada pelos montes. Eu, que nem sou de Lisboa, que estou aqui quase em Erasmus… Sou portuguesa, vim lá de uma terra também muito montanhosa, o jardim do Jardim, no meio do Oceano Atlântico.

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Cinco longas horas para chegar ao destino. Vi paisagens bonitas, campos sem fim, ovelhas e “bacas”, a luz quente do pôr-do-sol e pessoas sonolentas dentro do autocarro. Quando chegámos já era noite, o chão estava molhado e cheirava a terra, tinha acabado de chover. Jantámos e logo descemos ao UnderGreen onde se seguiram os reencontros entre copos e música alta.

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Depois de dormir bastante porque sim, almoçámos e fomos até ao centro da cidade para a conhecer.

Precisava de um rolo para a minha máquina fotográfica, que acabámos por comprar numa daquelas lojas onde as fotografias da vitrina já demonstravam manchas amarelas por causa do sol. Não interessa, comprei e fui-me embora.

Descíamos tranquilamente uma das ruas do centro que ainda não estava movimentada, quando atravessamos a passadeira. Claro que olhei para os lados para ver se podia passar. Um carro estava parado, mas quando caminhava pela sua frente, a condutora arranca e atropela-me assim, a sangue frio. Não me magoei mas fiquei com o coração gelado. A mulher usava óculos gigantes e tinha uma criança no banco de trás. “Ai! Desculpe, não a vi.” Como é que ela não me viu? Estava mesmo ali à frente do carro dela, na passadeira – onde costumam passar pessoas.

Continuámos a descer. Fomos à famosa Gomes. Estava quase vazia e os covilhetes estavam a sair do forno. Comi o meu primeiro covilhete e apaixonei-me outra vez.

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Ao cair da noite, Vila Real preparava-se para “O Falso Aniversário da Covilhete na Mão”.

Fui privilegiada, tenho que confessar. Umas horas antes eu e o atum! descemos para as modestas instalações da organização.  Os preparativos para o evento estavam ainda a decorrer, os bilhetes estavam quase prontos e o jantar estava a chegar. Entretanto apareceram mais pessoas: uns 10 000 Russos, um dos quais o Pedro, que é da minha terra e do Tren Go! Soundsystem; uma Sebenta Postiga liderada por dois malucos monárquicos e os Selva Catana (adição editorial IP4: com um cantil cheio da poção de Panoramix).

O Jantar que a mãe do Luís fez já chegou! Ajeitamos-nos todos à mesa, demos graças e comemos arroz com chouriço bem bom, acompanhado de vinho de não sei de onde.

Eu era a única rapariga à mesa, então de vez em quando interrompiam a conversa porque se lembravam “Está aqui uma rapariga”, teve piada. A conversa estava a ser tão animada que não queríamos sair de lá, mas certamente já havia pessoas à espera deles. Arrumámos os tachos e bebemos mais uns copos antes de ir para o local do crime — ABC da Cultura.

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Um corredor cheio de portas sem sinalização e uma delas sem maçaneta. Quem tinha a maçaneta tinha o poder de abrir a porta. Essa era a sala a que poucos tinham acesso. Mas eu tinha o “Fator C” — Cunha. Na sala estavam instrumentos, artistas, organizadores e mil copos muito felizes.

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Depois de alguns concertos e de mais algumas cervejas, decidimos sentar-nos num dos sofás do piso do bar. Enquanto uns iam buscar mais para beber e outros iam ao WC, eu e uma amiga do Guilherme começámos a representar partes de um dos livros que lá estava. Obrigada. Foi estranhamente bom relembrar alguns dos momentos que passei no secundário.

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A noite estava a acabar e o sol a poucas horas de raiar. Deitámos os últimos foguetes e fomos para a rua. O grupo separou-se, uns foram lá para não sei onde do pessoal reggae e nós fomos para o Miraneve comer coisas com molho de francesinha! Já não me lembro de que conversámos, mas as conversas devem ter sido boas pois estava na companhia dos Sebenta Postiga versão esfomeados.

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Os Montes e o Douro – Um manto banhado por ouro… Aposto que já escreveram uma música com estas palavras.

No último dia fomos passear e apreciar as paisagens.

Sentados no carro percorremos caminhos ao lado do Douro até chegarmos à barragem. Nunca tinha visto nada assim, é daquelas coisas que se nunca vires e se te contarem, não consegues imaginar bem. Na minha terra tem grandes montanhas mas não tem rios, só ribeiras e mar.

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Estávamos num miradouro com vista de 360º para os montes e o seu filho, o rio Douro. Numa das partes do passeio dei por mim a pensar “falta alguma coisa”. Temos o rio mas o que faltava mesmo para me sentir em casa era o mar.