Sugestão do mês | Taxidermia, Visitor Q, Irreversible

E então minha gente, essas vacaciones? Pois, é um pouco por aí. Ainda agora começaram e num instantinho já está a chegar a fatídica hora de voltar à labuta. Mas não é de agora, já sabias que a coisa funciona assim.

Gostaram da sugestão do mês passado? Mas qual sugestão do mês passado? Procrastinar, obviamente. Laurear a pevide, não fazer um peido, aproveitar este calor molengão que também merecem. Haveria melhor maneira para apresentar a sugestão do que não fazer rigorosamente nada?

 

 

Ainda no espírito da coisa, nem uma imagem vagamente relacionada me dei ao trabalho de procurar.

 

Mas bom, falando — convenientemente para o desenvolvimento deste texto — nas férias de verão, há uma série de peculiaridades que todos nós imediatamente associamos a esta altura do ano: roupa curta, arraiais na aldeia, animais insufláveis, queimaduras solares, turistas de meia-idade com o combo meia branca/sandália, turistas de meia idade com o combo meia branca/sandália a exibirem queimaduras solares e — deus nos livre — roupa curta, fotos na piscina com os bros mesmo numa de a-minha-vida-é-super-divertida-e-bem-mais-interessante-do-que-na-realidade-é, e claro, a relação amorosa fugaz e inconsequente — a chamada paixoneta de verão.

José Malhoa, performer especialista em verão, desmistifica:

Um clássico, mas percebe-se: o calor e a mini-saia vermelha deixaram as tuas hormonas em efervescência, a tatuagem no fundo das costas fez-te acreditar que na pior das hipóteses não há-de ser a primeira vez que aquela miúda tomou uma decisão que poderá vir a arrepender-se, e depois do quinto shot de sabe-deus-o-quê, lá acabas a tentar a tua sorte. Acordas no dia seguinte, olhas para o lado e achas-te apaixonado para a vida.

Só que afinal não. O tempo passa e torna-se claro para ti que afinal não é bem aquilo. Tu lês o IP4, anseias pelo concerto de Wooden Wand e sonhas mudar o mundo. Ela lê a Nova Gente, foi ver a Paris Hilton ao Pacha e tem como objectivo máximo entrar na próxima edição da Casa dos Segredos. Normalmente não há grande brasa e estas coisas resolvem-se por si mesmo, mas ela não se manca e já fala em irem a Salvaterra de Magos para conheceres os pais e chamarem Afonso Custódio ao filho. Sim, porque neste planeta já entupido de gente, o que precisamos mesmo é de mais um Afonso Custódio a consumir recursos naturais e banda larga da internet. Quem sabe, até poderia vir a ser o tipo que inventa a cura para a sida, ou descobre o segredo das viagens no tempo, mas queres mesmo arriscar?

No entanto a miúda não deixa de ser uma jóia de pessoa e custa-te acabar assim tão bruscamente a coisa. E agora, como sair hábil e suavemente de uma situação destas sem pareceres um filho da mãe insensível? Tranquilo, a sétima arte resolve: nada melhor que uma sessão de cinema bizarro para a fazer perceber por si mesma que afinal és um anormal estranho com gostos repulsivos e que não foram feitos um para o outro. E isto sem usares a cartada do golden shower ou uma outra perversão sexual qualquer que poderá voltar no futuro para te arruinar a carreira.

Desta vez sim, uma imagem vagamente relacionada com o assunto.

Ah, mas isso é fácil pensam vocês. Pois é. Aproveitas um destes dias em que o sacana caprichoso e inconstante do S. Pedro nos brindar com um dia de chuva, arrasta-la da Mango para tua casa, preparas um jantar altamente regurgitável, abres uma garrafa de vinho e espetas com um The Human Centipede em cima da miúda e a coisa está feita.

MAS, não esquecer que esta não deixa de ser a rúbrica Sugestão do Mês. E eu, meus meninos, acreditem ou não, tenho padrões. Nunca iria sugerir visualizarem algo tão merdoso e aborrecido. Portanto segue especialmente para ti, jovem incauto cujo precioso fluxo sanguíneo se desviou em demasia para zonas mais esponjosas do teu corpo, três dicas cinematográficas de qualidade superior para arruinares a tua relação de verão — mesmo a tempo para ficares livre para a paixoneta com a miúda Erasmus no próximo ano lectivo — num segmento que imaginativamente decidi denominar

 

Três Dicas Cinematográficas de Qualidade Superior Para Arruinares a Tua Relação de Verão

 

Taxidermia (2006)

Nem só de Béla Tarr se faz o cinema húngaro. Vencedor do prémio do público do Fantasporto 2007, Taxidermia é uma entrada a pé juntos de György Pálfi apontada directamente aos vossos sentidos, com uma pujança e virilidade digna dos tempos áureos do Bruno Alves. Nojento e grotesco, mas ridiculamente bem filmado (a cena da banheira giratória é tipo, GLORIOSA), é a surreal história de três gerações de uma família na Hungria pós união soviética, três gajos que comprovam que os gregos tinham razão naquilo do mente sã corpo são. De um avô militar peeping tom que ejacula como um foguete, a um pai com rabo de porco que fez carreira como atleta de alta competição na modalidade enfardamento em contra-relógio e terminando no lazarento filho taxidermista obcecado com a obra-prima perfeita, este filme é diversão garantida e uma coisa linda de se ver se estiveres em jejum.

Eficácia comprovada por um desgraçado anónimo sem noção que deciciu levar a parceira ao cinema e acabou a dormir sozinho com cinco dedos marcadinhos na tromba. Estudasse.

 

Visitor Q (2001)

Ahhhh, Takashi Miike. Este gajo é só tipo o maior. Realizador nipónico ultra-prolífico que nos brindou com pérolas como Ichi The Killer, Audition, 13 Assassins e claro, Full Metal Yakuza — e que merecia só por si um especial neste espaço — saca aqui tamanha gema de perversão que, admito, deve ser apenas usada em último recurso. Estamos a falar de incesto entre pai e filha prostituta [SPOILER: teve que pagar] e bullying do catraio à mãe agarrada ao cavalo. Há também necrofilia e leite maiterno envolvido. Basicamente, tudo o que de errado poderia acontecer numa relação familiar está aqui, mas em modo extreme. O facto de parecer ter sido filmado com a câmara do cunhado directamente para VHS torna tudo ainda mais difícil de digerir. Sinceramente, não consigo pensar em nada que vos possa convencer a ver tal anormalidade, mas porque uma imagem vale mais que mil palavras

Lembram-se de ter falado em necrofilia?

Apesar da sensação constante de eu-realmente-não-deveria-estar-a-curtir-isto, não deixa de ser filmaço.

A sério.

E com direito a happy ending.

 

 

Irreversible (2002)

Sem dúvida o título mais famoso e medalhado desta pequena lista, já tudo foi discutido sobre este chocante conto de vingança de estar-no-lugar-errado-na-hora-errada, mas se estamos a falar de filmes para arrumar com o mood romântico e criar uma crosta anti-tu nas partes baixas da miúda, Irreversible é incontornável. Aliás, para arrumar com qualquer tipo de mood — contrariamente às sugestões anteriores, isto não tem piada nenhuma e vai encher o teu peito de ódio. A desconcertantemente longa cena de violação que fez pessoas abandonar salas de cinema um pouco por toda a parte será porventura o momento mais badalado, mas reduzir Irreversible ao arrombamento à bruta da bilha da Monica Bellucci (por muito “interessante” que possa soar, seu taradão desgraçado, acredita que não) é um absurdo. Gaspar Noé brilha como ninguém quando é para deixar a audiência abananada com os planos, e a opção de apresentar a história de marcha-atrás faz todo o sentido do mundo — o que está feito está feito, é irreversível, vamos agora lá ver o que levou a tudo isto. Há uma cena, também ela bastante famosa pela sua violência gráfica, em que um crânio é esborrachado por um extintor e não conheço nem acredito que vá algum dia conhecer alguém que não se tenha sentido mais ou menos da mesma maneira no final desta hora e meia.

Só uma pequena nota antes de nos voltarmos a encontrar para o próximo mês: apesar de ligeiramente amaricado e ter andado a tomar merdas para as dores menstruais à conta de umas pontadas na pança que vocês nem imaginam, a verdade é que não nasci com um útero e portanto isto foi escrito da perspectiva de um gajo para outro gajo. Pode ser que uma colaboradora IP4 decida no futuro escrever uma versão direcionada ao público feminino, mas para já, porque não uma vagina dentada? Ou se quiserem jogar mesmo feio, é só marcar uma maratona de filmes baseados em livros do Nicholas Sparks que o assunto fica resolvido.

Digo eu.